A Netflix é responsável por uma das maiores revoluções na maneira como as pessoas assistem a filmes e séries. Desde que lançou seu serviço online de aluguel de DVDs, enviados à casa das pessoas por correio, a companhia de Reed Hastings trocou seu modelo de negócios, passou a oferecer conteúdo por streaming e hoje é uma potência que fornece entretenimento para 125 milhões de usuários no mundo inteiro. Investindo muito em conteúdo original e em licenciamento de blockbusters recentes, a empresa tem batido de frente com o formato cinematográfico tradicional, sobretudo o europeu. Até agora, quem mais sofria com a imposição dos interesses da Netflix eram os fãs de filmes clássicos, que o catálogo da empresa despreza. Recentemente, o alvo passou a ser também a produção de filmes de arte, que costumam agradar à crítica, embora com baixas bilheterias. A ambição de decidir o que o público deve assistir ficou patente na briga com o Festival de Cinema de Cannes, na França, o grande bastião do cinema autoral.

O atrito começou no ano passado. A Netflix inscreveu na mostra competitiva dois filmes de produção própria, e ambos foram vaiados antes das exibições. Neste ano, a empresa retirou todas as suas produções de Cannes depois de o festival afirmar que elas só poderiam ser inscritas se entrassem em cartaz nos cinemas na França. Isso porque a legislação francesa exige que qualquer longa-metragem exibido em salas tenha de esperar três anos antes de ir para um serviço de streaming como o Netflix. A decisão de abandonar Cannes mostra um pouco do descaso da empresa com a história do cinema. Embora tenha nascido como locadora de filmes, o catálogo atual de 3066 títulos disponíveis para o assinante brasileiro tem apenas 5% de filmes anteriores a 1990.

Alternativas

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Quem quiser ver clássicos como “Casablanca” ou “Cidadão Kane” deve procurar mídias físicas ou recorrer ao YouTube, onde há filmes de domínio público. Outros serviços oferecem produções independentes e autorais. O Mubi, por exemplo, tem apenas 30 longas em catálogo, mas traz novidades todos os dias. Nem sempre há legendas em português e a assinatura é cobrada em dólares.