07/07/2023 - 8:00
Em parceria com a Cinémathèque Française, a CaixaForum de Madri recebe a exposição “Top Secret”, que relaciona o cinema ao mundo dos espiões e vai até 22 de outubro. Entre o mistério e o charme, são 300 peças da cinemateca e também emprestadas de coleções particulares, alusivas à espionagem, a “arte” que se tornou conhecida no fim do século XIX.
Geringonças tecnológicas tidas como futuristas, documentos e fotos de espiões saídos de livros e filmes (mas também verdadeiros, que trabalharam para a inteligência soviética e a americana nos tempos da Guerra Fria) podem ser “espiados” pelos milhões de apaixonados por aventuras de Mata Hari a 007, na maior parte das vezes bem-humoradas.
Os visitantes já iniciam o tour sob o cumprimento em Código Morse de um lustre piscante. A partir daí, as atrações mais divertidas são os gadgets da exposição que começou por Paris e seguirá de Madri para Barcelona, onde ficará de 29 de novembro a 31 de março de 2024. Há objetos reais:
* câmera Tessina escondida em cigarreira,
* caneta que recolhe impressões digitais,
* sapato com faca retrátil na ponta,
* batom que dispara uma bala,
* pistola Welrod MK IIA de calibre 7,65 desmontável e com silenciador (usada na Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial).

E ainda:
* vestido sensual da bondgirl Eva Green em Casino Royale,
* o smoking do 007 de Daniel Craig em Skyfall,
* perucas e bigodes postiços que atestam a veracidade do manual de disfarces dos agentes da Stasi da Alemanha Oriental,
* mais fotos de espiões soviéticos disfarçados em várias identidades e ensinados a se vestir e se comportar como “capitalistas”.
Isso sem contar:
* guarda-chuva com veneno na ponta,
* bengala para cegos com cianureto,
* detector de mentiras encontrado em hotel de Sófia, na Bulgária.
Curiosidade: a máquina Fialka para criptografar mensagens foi emprestada da colecionadora Stéphanie M., que compra diretamente de antigos agentes soviéticos. Do lado da ficção, um destaque é o submarino-crocodilo utilizado pelo James Bond de Roger Moore em Octopussy (1983).

Os responsáveis pela mostra destacam que “todos os diretores de cinema são espiões” porque revelam histórias como da espiã Mata Hari (morta por fuzilamento durante a Primeira Guerra Mundial) ao icônico 007 (e seu “Bond, James Bond”), que continuariam “secretas” não fossem Alfred Hitchcock, Jean-Luc Godard, Francis Coppola e outros tantos. Esses dois mundos interligados chegaram mesmo a gerar um gênero cinematográfico próprio.

E a espionagem foi um grande mote no cinema do século XX, como diz o roteirista Edwin Perez, professor na área de audiovisual do Senac, lembrando que um de seus maiores mestres, Hitchcock, se valeu do tema em mais de dez obras, a mais famosa delas sendo Intriga Internacional (1959), com a clássica cena de Cary Grant sendo perseguido por um avião em uma estrada, depois parodiada por Vincent Gallo em Arizona Dream (1993) de Emir Kusturica.
Essa premissa de que todos têm segredos e a tentação de conhecer os segredos do outros, segue o professor, foi bem explorada pelo cinema desde seus primórdios, desde David W. Griffith e seu Espião Prussiano (1909) até o Missão Impossível — Acerto de Contas, estrelado por Tom Cruise.
“Se o cinema tinha a espionagem coletiva como um personagem que beirava a paranoia, foi devido a segredos das Guerras Mundiais e da Guerra Fria”, comenta o professor. “Hoje, o tema ainda atrai, mas o público amadureceu com casos como de Edward Snowden e Julian Assange e os americanos deixaram de ser mocinhos, pela pulverização de quem é o inimigo.”

Curiosidade
A mostra, que liga espionagem e cinema, tem cinco aspectos:
1. a relação com a tecnologia,
2. o destaque das mulheres espiãs,
3. a figura carismática de James Bond,
4. o terrorismo internacional dos anos 1970
5. e a sociedade de hoje, “espionada e espiã” como nunca.
“A franquia que mostra toda esta transformação é do 007”, diz Edwin. “Do inimigo que tinha a bomba H ao inimigo de hoje que quer controlar a água, muita coisa mudou. A espionagem que visava a segredos com alto potencial de dano coletivo migrou para segredos individuais”, observa.
“Aquela informação que não nos é permitida aguça a curiosidade e será assim cada vez mais, com aplicativos ensinando como burlar a privacidade das pessoas até hackers que podem definir eleições presidenciais.”