É impossível passar incólume pelo tempo. Cedo ou tarde, toda juventude se dobra diante dele.

Não há beleza que resista à sua fúria. Diz o poeta barroco que “o tempo trota a toda ligeireza, e imprime em toda a flor sua pisada”.

Desde que o mundo é mundo, e, como Narcisos, nos apaixonamos pela imagem no espelho, tentamos enganar o tempo com todo tipo de sortilégio. A literatura é farta de contos de pactos macabros em troca de juventude e vida eternas. Quem não se recorda da triste história do conde Drácula que entrega sua alma ao demônio e é condenado a ver todos os que ama perecerem, pois incapaz de morrer?

E que fim trágico não teve o aristocrata Dorian Gray, de Oscar Wilde, que desejou ser belo para sempre e recebeu, em troca, uma alma apodrecida?

O castigo para quem ousa desafiar o tempo é sempre muito cruel — nas fábulas e no mundo real. E se você é uma mulher, prepare-se para encarar um tribunal ainda mais implacável.

Em sociedades utilitaristas como a nossa, a mulher tem prazo de validade, e geralmente bem curto. Enquanto durar sua idade fértil, o tempo em que pode gerar filhos, ela terá o seu valor na sociedade.

Mas, o que acontece quando a janela se fecha, e descortinam-se os 40, 50, 60 anos?

Só há dois caminhos: aceitar a idade que se tem ou rebelar-se contra o tempo, buscando um fôlego a mais de juventude.

Independente da sua escolha, prepare-se para as críticas!

A nós, mulheres, é tão proibido envelhecer quanto tentar manter-se jovem.

Se assumimos rugas e cabelos brancos somos velhas desleixadas. Se recorremos a procedimentos estéticos e malhação somos velhas neuróticas que se recusam a aceitar a própria idade. Não há escapatória. Ninguém foge do cruel escrutínio: nem anônimos nem famosos.

Foram condenadas pela opinião pública, a dançarina Gretchen por que fez plástica; a apresentadora Xuxa por que não fez; a atriz Sarah Jessica Parker por que aceitou envelhecer, a popstar Madonna por que ousou continuar jovem.

Desde que o mundo é mundo, e, como Narcisos, nos apaixonamos pela imagem no espelho
e tentamos enganar o tempo com todo tipo de sortilégio

Vai entender! Ao preconceito e à discriminação em razão da idade damos o nome de etarismo. É algoa se debater e combater, afinal, a humanidade está vivendo mais.

E quanto mais o tempo passar, mais comum será convivermos com pessoas mais velhas. E não será possível varrê-las para debaixo do tapete.

+40, +50, +60, +70 estão aí para provar que a idade não as define, limita ou condena, que ainda são capazes, criativas, produtivas e belas também.

Pois, não é por que a idade chegou que precisamos sair de cena, nos esconder como párias. Com o avanço da medicina e dos recursos estéticos, ter rugas ou não ter será uma questão de escolha. Mas, só para quem tiver o privilégio de envelhecer.