11/11/2022 - 9:30
No mesmo dia em que a cantora Gal Costa nos deixou, o País perdeu um de seus grandes contadores de “causos”: o apresentador, músico e ator Rolando Boldrin, aos 86 anos. Ao longo de quase duas décadas, sua relação com o público foi tão próxima que ele passou a ser conhecido carinhosamente pelo nome do seu programa na emissora paulista TV Cultura: Senhor Brasil.
Muito antes da música regional ser chamada de “sertaneja”, Boldrin já era uma das principais referências do estilo caipira, canções nascidas no campo, longe das grandes capitais. Ainda criança, formou com o irmão Leili, apelidado de Formiga, a dupla caipira infantil Boy & Formiga. Mais tarde, adolescente, Boldrin começou a atuar em radionovelas, formatos populares nos anos 1950. O bom desempenho o levou para a TV, onde passou a trabalhar em programas como Teatro de Novelas, TV de Comédia e Grande Teatro Tupi. Foram mais de vinte produções em todas as grandes redes do País: SBT, Record, Bandeirantes e Globo. Como ator, nessa última, atingiu grande popularidade pelos papeis em Paraíso e Cabocla.
Boldrin chegou a gravar mais de 200 músicas, somando-se as composições próprias com as de colegas de todas as regiões brasileiras
Teve ainda expressiva participação no cinema e teatro, em grupos experimentais como Arena e Oficina. Brilhou em uma peça dirigida por José Celso Martinez Corrêa, Os Inimigos, de Máximo Górki. O lado político de Boldrin, no entanto, logo perdeu espaço para o apreciador da música regional: trocou o palco pelos estúdios e passou a dedicar-se com afinco a registrar um repertório de modinhas tradicionais do cancioneiro popular.
Chegou a gravar mais de 200 músicas, entre composições próprias e obras de colegas. Na década de 1970, em um show dirigido por Antônio Abujamra, criou o formato que o consagraria anos depois na TV: contador de “causos”, alternando boas conversas, histórias do cotidiano do campo e modas de viola. Ao transpor o estilo para a TV, descobriu sua verdadeira vocação: o programa Som Brasil, exibido nas manhãs de domingo na Globo, tornou-se um improvável campeão de audiência no horário e durou até meados dos anos 1980. Ao deixar a emissora carioca, levou o programa – com outro título, Empório Brasileiro – para a Band, SBT e CNT. Quando chegou à TV Cultura, em 2005, ganhou o nome Senhor Brasil. Até a noite da quarta-feira 9 a causa da morte não fora revelada.