22/07/2022 - 9:30
Embora o voto seja obrigatório apenas a partir dos 18 anos, mais de 2,1 milhões de jovens com 16 e 17 anos devem se dirigir às urnas em outubro para participar das eleições que vão definir os rumos do país pelos próximos quatro anos. Um aumento de 50% em relação aos 1,4 milhões de jovens eleitores na mesma faixa etária que se habilitaram para o voto nas eleições presidenciais de 2018. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Essa marca, de acordo com o próprio Tribunal, reverteu uma série histórica de sucessivas quedas no interesse dos adolescentes pelo voto ocorrida a partir das eleições de 2010 – e que chegou ao patamar mais baixo há quatro anos. Desta vez, a participação de artistas e influencers na campanha eleitoral tem sido um dos estimulantes para a participação do novos caras-pintadas nas eleições, resgatando o interesse dos jovens pela política.

17 ANOS Kaique Baradel Guarda Jovem de Jundiaí quer contribuir para País resolver seus problemas: inflação, corrupção e fanatismo (Crédito:João Castellano)
De olho nesse público, que parecia meio desanimado com o debate político, o TSE lançou em 2021 o a campanha “Bora votar!” e, em março último, promoveu a Semana do Jovem Eleitor, para incentivar o voto de jovens a partir de 16 anos incompletos, mas que teriam essa idade no dia 2 de outubro, data da eleição. Paralelamente aos esforços da Justiça Eleitoral, personalidades como a cantora Anitta e até mesmo os astros hollywoodianos Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo também se engajaram na campanha pelo voto jovem no Brasil – para desgosto do Palácio do Planalto, especialmente no caso de DiCaprio e Anitta: o ator é um crítico ferrenho da forma como o presidente Jair Bolsonaro (PL) conduz a questão ambiental na Amazônia, e a diva pop vem fazendo sucessivas manifestações de apoio ao ex-presidente Lula.
Para a cientista política Carolina Botelho, do Doxa/Iesp/UERJ e do Mackenzie, o empenho do TSE e de influenciadores explica parcialmente o maior interesse dos mais jovens para participação política. Mas ela chama a atenção para outro ponto importante: de acordo com as pesquisas de opinião, esse eleitorado é bastante refratário ao governo Bolsonaro. “Eles são afetados por políticas e discursos que não são muito aderentes para os mais jovens, ao mesmo tempo em que se percebem como grupo social importante para modificar a ordem das coisas e a atual correlação de forças – mudar o presidente, enfim”.
“Tempos obscuros”
Carolina Botelho destaca ainda o fato de que uma das lideranças na disputa promove um discurso de aniquilação do adversário – e o faz diretamente da Presidência da República. “Esse discurso beligerante e violento do bolsonarismo contra os adversários faz com que grupos de diversos setores da sociedade percebam o quanto isso é deletério”, diz. “É possível, então, que esses grupos se sintam mais motivados a participar do processo democrático para retirar do poder essa liderança perniciosa. E isso vale também para os jovens”.

Para Kaique Baradel Guarda, 17 anos, mecânico e vendedor em Jundiaí, se posicionar na próxima eleição não é uma escolha, mas uma necessidade, já que, na avaliação dele, o País passa por um momento complicado, com “inflação, corrupção e fanatismo”. “Converso bastante sobre política com a minha namorada, e ela me incentivou a tirar logo o título para poder votar em outubro. E não fiz mais do que minha obrigação”, diz. “Preciso me posicionar. São tempos obscuros. As pessoas estão dominadas pela raiva e pela ignorância. Tem gente morrendo por causa disso, como o petista assassinado pelo bolsonarista na Paraná”. Felipe concluiu recentemente o ensino médio e conta que procura ler bastante para se manter informado. Também atribui parcialmente sua formação política às letras de rap – gênero musical de que é fã e que traz frequentemente em suas letras um forte componente de crítica social.
Por sua vez, o estudante Felipe Bragança, 17 anos, conta que as aulas de filosofia, história, geografia e especialmente sociologia na escola particular em que estuda, em Brasília, foram fundamentais para que ele decidisse tirar o título de eleitor. “Diante da possibilidade de retrocesso do País, achei importante me posicionar e decidi fazer parte do processo eleitoral”, explica. “Mas esse clima de polarização é muito ruim, é quase um incentivo para não votar. Sinto um desânimo por ter que tomar posição em relação a um dos lados”. No final das contas, prevaleceu o incentivo do professor de sociologia: “Ele é, muito provavelmente, quem mais me incentivou a tomar a iniciativa de votar”. Sobre a definição de um nome de sua preferência para a disputa, Felipe tem uma certeza: não vota no PT – posição definida junto com os pais. Para a democracia, o mais importante é participar, mas sem extremismos.
Colaborou Carlos Eduardo Fraga