Para o público atual, ver a cantora Anitta gravando videoclipes nos morros cariocas ou apresentando suas coreografias de funk na TV pode parecer algo revolucionário. Nada disso: uma outra carioca da zona sul já faz isso há três décadas. Fernanda Abreu, 60 anos de idade e 30 de carreira, foi pioneira na mistura dos ritmos da periferia do Rio de Janeiro com as batidas eletrônicas dos DJs. Para celebrar a data, ela lança “30 Anos de Baile”, disco de remixes que celebra seu amor pelas pistas de dança. A lista de participações é eclética: vai de nomes da geração atual, entre eles Gui Boratto e Tropkillaz, aos DJs “clássicos” Zé Pedro e Memê. Entre as novas versões há espaço até para o sotaque paulista: o disco traz parcerias com os rappers Emicida e Projota.

DANCE “30 Anos de Baile”: reunião de diversas gerações de DJs brasileiros (Crédito:Divulgação)

Pioneira eletrônica

A carreira de Fernanda Abreu começou longe das pistas e perto dos palcos de rock. Foi como vocalista da Blitz que ela experimentou a fama, principalmente quando a banda se tornou o maior sucesso do Brasil com a música “Você não Soube me Amar”, em 1982. Com o fim do grupo, em 1986, Fernanda passou a frequentar bailes funk animados pelo DJ Marlboro, o primeiro a adicionar música eletrônica aos batuques das comunidades cariocas. “O som era visto como maldito, mas eu adorava frequentar os bailes e passar a noite inteira dançando”, conta Fernanda. “Gravei uma fita e mostrei para o diretor da gravadora. No início ele estranhou, mas confiou na minha intuição.” Como era apaixonada por Prince e Madonna, artistas que se alternavam no topo das paradas nos anos 1990, Fernanda abusou dessas influências para criar seu inovador disco de estreia, “SLA Radical Dance Disco Club”. A “Fernandinha da Blitz”, como era conhecida, dava lugar a uma cantora mais moderna e antenada com o que tocava fora do País. Pioneira das batidas eletrônicas, ela usou a fama para colocar holofotes sobre a música feita nas comunidades cariocas. O reconhecimento veio agora: a ONG Favelivro, que incentiva o acesso à leitura, acaba de inaugurar a “Biblioteca Fernanda Abreu” no Morro do Faz Quem Quer, em Rocha Miranda, na zona norte do Rio de Janeiro.