07/10/2022 - 9:30
A cidade mais visitada do mundo não quer mais saber de mudanças em seu horizonte. Isso porque o gabinete da prefeitura acabou abandonando os planos para a construção de quatro novos edifícios ao redor da famosa Torre Eiffel, que fariam parte da revitalização da região visando os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. Após meses de protestos de ambientalistas e de uma petição assinada por quase 150 mil pessoas, as obras que abrigariam um café, diversas lojas, banheiros públicos e um local para o armazenamento de bagagens para os turistas não devem mais acontecer. “Vamos cancelar completamente o projeto de construção ao pé da torre, mas o paisagismo será mantido”, disse o primeiro vice-prefeito, Emmanuel Grégoire, à imprensa francesa. Uma das questões que pesaram na decisão foi a preservação de 20 árvores que precisariam ser cortadas, caso a reforma fosse adiante. A decisão de salvá-las foi tomada em maio, após protestos e objeções da população local, com ambientalistas fazendo acampamento em torno dos troncos.
O fundador do Grupo Nacional de Vigilância de Árvores (GNSA), Thomas Brasil, também fez greve de fome para preservar a vegetação do local. “Não estamos cedendo à pressão, mas gostaríamos que o projeto não fosse ofuscado pela controvérsia. Vamos apenas dizer que estamos removendo parte do atrito”, disse Grégoire. Ou seja, os edifícios altos ficaram para trás, mas alguma mudança virá, principalmente para favorecer os pedestres e aliviar o pesado fluxo de turistas. Para isso, uma área de 54 hectares ao redor da torre, que é atravessada por estradas, será em parte destinada para as pessoas e “transportes de baixo impacto”, como ciclovias e algumas linhas de ônibus. As autoridades da cidade pretendem terminar a revitalização do ambiente o mais breve possível – o objetivo é que fique pronto até a Olimpíada, em 2024.

Quem visita Paris sabe que a região do Trocadero – onde está a atração – já não comporta a quantidade de visitantes e que algo precisa ser feito. Estima-se que 150 mil pessoas visitem a área da Torre Eiffel todos os dias durante a alta temporada de verão, isso sem falar nos cerca de 20 mil visitantes que formam filas gigantescas para subir até o alto da estrutura, que possui locais para comer, tirar fotos e tomar café. “Seria como se, de repente, decidíssemos mexer no entorno do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Não é só a estátua, é também a paisagem que ajuda a compor a cena”, explica a arquiteta Patrícia Moreno, fazendo um paralelo com o destino turístico brasileiro. Para ela, construir prédios ao lado de um ponto turístico tão reconhecido internacionalmente como a Torre Eiffel descaracterizaria a paisagem de toda a região.

“Uma das coisas que emolduram a torre é o cenário que está em volta dela. Ela não existe sozinha no espaço”, explica a arquiteta. Até 2013, a cidade de Paris proibia a construção de edifícios com mais de quatro andares em diversas regiões históricas. Seus poucos arranha-céus estão localizados em seu centro financeiro, no bairro de La Défense, na região oeste da capital. A própria construção da torre, erguida entre 1887 a 1889 como peça central da Exposição Universal, era para ter um caráter temporário. Devido ao seu sucesso e à beleza arquitetônica – são 330 metros de altura, o equivalente a um prédio de 81 andares –, tornou-se permanente e é hoje o monumento pago mais visitado do mundo, com uma média de sete milhões de visitantes anuais.
