14/04/2022 - 9:30

No início da pandemia, em março de 2020, os primeiros negócios a sofrerem com o isolamento foram os locais fechados, como restaurantes e academias. Desde então, alunos, professores e personal trainers correm atrás de alternativas para manter suas atividades. Dois anos depois, com a flexibilização das medidas restritivas, eles resolveram aproveitar a reabertura dos parques públicos para trocar as academias pelas áreas ao ar livre.
Fundador de uma das principais assessorias esportivas de São Paulo, o maratonista e triatleta Adriano Bastos, de 44 anos, dá aulas no Parque da Universidade de São Paulo (USP) e no Ibirapuera. Suas turmas, que funcionam nos dias de semana, já têm mais de 260 alunos – cerca de 40% das novas inscrições ocorreram depois da pandemia. “Os clientes me procuram porque estão cansados do ambiente fechado da academia. Não querem ficar mais confinados a um único espaço e preferem correr em ambientes arborizados, sem contar que muitos ainda têm um certo receio em frequentar as academias”, explica. Como triatleta, Adriano oferece treinos para uma cartela disputada de alunos, dos iniciantes aos experts. “Gosto de treinar desde o praticante mais sedentário, que não faz exercícios físicos e quer mudar de vida, até o maratonista que me procura para melhorar seu desempenho competitivo.”

Sergio Almeida, de 51 anos, corre desde 2016. Com a pandemia, porém, optou por treinar com supervisão de um profissional. Escolheu um ex-atleta profissional para ser seu técnico. “No esporte e na vida, sigo o princípio de que quem fez na prática sabe como orientar de uma forma mais adequada”, afirma. Diretor jurídico de uma empresa de café, hoje divide o tempo entre as reuniões e os treinos diários. “Acordo as cinco horas da manhã e faço exercícios até às sete horas, para só então começar meu dia”, afirma. Gostou tanto da experiência ao ar livre que já garantiu: não voltará mais a correr em locais fechados. “O ambiente costuma ser muito massante, dá aquela sensação de que estamos presos. Correr em grupo no parque cria uma atmosfera diferente, me dá mais motivação”, afirma.

A advogada e maratonista Michelle Castro, de 43 anos, reclama que não aguentava mais correr na esteira. Ela brinca que se sentia como um ratinho de laboratório, observada o tempo inteiro pelos companherios de academia ao seu redor. “Precisava de novos ares, respirar um ar mais puro e limpo”, diz. Michelle costuma alternar seu percurso: corre na USP, no bairro de Pinheiros e nas ruas do alto da Lapa, zona oeste de São Paulo. Está se preparando para a prova de longa distância que vai disputar em junho, e já comemora a melhora em seus índices. “A pandemia nos fez valorizar mais o espaço público, o sol, o vento no rosto. O ambiente fechado da academia me lembrava do período de quarentena, em casa, me sinto enclausurada”, afirma, lembrando que só frequenta quando vai fazer exercícios em aparelhos. “Não tem jeito, sou obrigada a fazer para fortalecer os músculos.”

Estudos apontam que praticantes de exercícios em locais abertos tendem a ficar menos nervosos e estressados do que quando realizam atividades em locais fechados. Juliano Cavalcante, atleta e profissional de educação física, é sócio diretor da consultoria esportiva 4 Health e dá aulas há mais de dez anos em parques públicos, como o Ibirapuera, Villa Lobos e Parque do Povo. Ele afirma que, somente em 2022, houve um aumento de cerca de 30% na procura de alunos por práticas em espaços abertos. “Aulas e workshops em ambientes externos estimulam o estado mental de relaxamento e a maior emissão das ondas cerebrais alfa, que estão ligadas à redução de sintomas da depressão. Além disso, é uma experiência muito mais agradável e prazerosa, tanto para quem pratica, quanto para o professor.” Mesmo com a pandemia cada vez mais controlada e a volta parcial da normalidade, é bem provável que a moda dos treinos ao ar livre veio para ficar.