É uma ideia tão óbvia que chega a ser surpreendente imaginar que ela só se tornou realidade há quatro meses. Se quinze milhões de turistas visitam Nova York a cada temporada para assistir aos espetáculos da Broadway, por que não criar um local para homenageá-los de forma permanente? Foi isso que fizeram as produtoras Julie Boardman e Diane Nicolett. Montaram, no coração do bairro que reúne o maior número de teatros no mundo, a nova sensação do turismo cultural em Manhattan: o Museu da Broadway, com mais de mil itens, entre figurinos, roteiros, cartazes, perucas e cenários de musicais que marcaram época.

De Amor, Sublime Amor a Cats, de Les Misérables a Mamma Mia!, há memórias espalhadas pelos quatro andares ocupados pelo acervo da nova instituição. Segundo Julie Boardman, o conceito surgiu de um pensamento prosaico. Ao final da temporada, as centenas de objetos usados nos shows tinham o mesmo destino: o lixo. “Os produtores desistiam de pagar o aluguel dos depósitos e tudo era jogado fora”, afirmou Julie ao jornal The New York Times. “Era uma loucura imaginar que não havia um lugar assim. A Broadway tem uma longa história e as pessoas que transformaram essa região no que ela é mereciam isso.” O Museu do Cinema, inaugurado em Hollywood há dois anos pela Academia do Oscar, serviu de inspiração para a iniciativa nova-iorquina.

Apesar de o teatro norte-americano ter passado por diversas fases, o espaço privilegia o século 20, mais especificamente a crise pela qual sua comunidade passou nos anos 1980. Foi o período em que Aids se disseminou com força na cidade, vitimando parte dos profissionais do setor. Isso coincidiu com a “invasão britânica”, como eles mesmo chamam o movimento representado pelo sucesso de Starlight Express (1987) e O Fantasma da Ópera (1988), ambas de Andrew Lloyd Webber. Mais tarde, o drama da Aids viraria tema de dois momentos que entrariam para a galeria dos grandes sucessos: Angels in America, de Tony Kushner, e Rent, de Jonathan Larson. Hoje, após outro duro período enfrentado pela cena local, a pandemia, a Broadway se recuperou e consegue manter seus 41 teatros na ativa.

A mostra permanente reserva aos fãs uma série de tesouros. Quem assistiu ao O Fantasma da Ópera não esquece a cena em que um grande lustre cai sobre o palco, o que fez do musical um dos mais populares da história. Pois o chandelier criado pelo alemão Ulli Bohmelmann, com seus 13.917 cristais, foi restaurado e está pronto para servir como cenário para selfies. O icônico vestido vermelho da estrela mirim Andrea McArdle em Annie (1977) também está lá. “É o item mais fotografado da coleção”, conta a curadora Lisa Zinni. O figurino usado pela estreante Meryl Streep, que mais tarde seria indicada 21 vezes ao Oscar de Melhor Atriz, mantém em evidência Trelawny of the Wells, de Arthur Wing Pinero, encenada originalmente em 1975.

Organizado de forma cronológica, o museu permite uma charmosa viagem no tempo. Estão listadas ao todo cerca de 500 produções, desde as obras encenadas no pioneiro bairro de Chinatown, sede da boemia no século 18, aos palcos de influência europeia, inspirados pelo vaudeville. A viagem segue então pelas obras românticas do início do século 20, como Oklahoma! e Show Boat, e chegam aos clássicos que transformaram o teatro norte-americano, como A Morte do Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee William, e Longa Jornada Noite Adentro, de Eugene O’Neill. Após um passeio como esse, será difícil escolher entre tantos musicais espalhados pela Broadway.

Tesouros da coleção

Amor, sublime amor

Divulgação

A jaqueta usada pelo personagem Tony em 1957: musical de Leonard Bernstein e Stephen Sondheim marcou época

Hair


Uniformes militares e peças dos hippies: protesto contra a Guerra do Vietnã, em 1968

Trelawny of the wells

Vestido de Meryl Streep: estreia histórica