Grandes impérios de grifes de renome mundial se preparam para enfrentar o desafio da sucessão. Apesar das especulações em torno de quais parentes vão assumir os lugares dos fundadores e seus últimos descendentes, afastar o sobrenome de peso da diretoria não parece ser uma opção. São décadas e até séculos de legado na moda global: a Prada, por exemplo, foi fundada em 1913, pelos irmãos Martino e Mario, avô da atual designer-chefe Miuccia.

Ainda que os conglomerados flertem com as casas europeias, as mais “reservadas” italianas permanecem resistindo sob as asas dos fundadores.

O país é responsável por 78% dessa indústria, segundo relatório da Pambianco-PwC, que é segundo setor da economia italiana e faturou 93 bilhões de euros em 2021.

Enquanto a dupla Domenico Dolce e Stefano Gabbana, ambos na casa dos 60, pretendem passar o bastão para a família do primeiro, Giorgio Armani, no alto dos 88 anos, fez questão de garantir legado perpétuo.

Mesmo os sobrinhos ficando com o controle da empresa, eles só poderão vender suas participações para uma fundação homônima criada pelo estilista, que não teve filhos.

Eventuais sucessores da LVMH: na mira de um império construído sobre as marcas Louis Vuitton e Moët Henessy (Crédito:Gonzalo Fuentes )

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Se a aposta nos sucessores avança junto com a idade dos poderosos chefões, a necessidade de mudança transcende a questão etária. “É a jovialidade ganhando espaço em empresas que precisam de frescor, mas sem abandonar suas raízes”, fala Andreia Meneguete, professora do Hub de Moda e Luxo da ESPM.

Sustentabilidade, diversidade, criatividade e inovação se somam à vanguarda na manutenção das grandes grifes.

“Uma marca interage com um contexto social e, no caso específico do luxo, ele tem que ressignificar alguns códigos para que faça sentido a um novo público, considerando sempre a sua essência.”
Andreia Meneguete, professora do Hub de Moda e Luxo da ESPM.

Prada: Lorenzo Bertelli (abaixo) é diretor-executivo da empresa é o favorito na sucessão da marca controlada pelos pais Miuccia Prada e Patrizio Bertelli (Crédito:Bobby Yip )

O destino da francesa LVMH, que surgiu da união entre a Louis Vuitton e a Moët Henessy em 1987, é o mais comentado da moda. E também da economia, já que o magnata Bernard Arnault, de 74 anos, chegou a ultrapassar Elon Musk no ranking de pessoas mais ricas do mundo esse ano.

Há poucos dias, o CEO da Tesla passou na frente e o francês caiu para o segundo lugar na lista da Forbes, com fortuna de US$ 238,7 bilhões.

(Jennifer Lorenzini)

Pai de quatro filhos e uma filha, todos dotados de altos cargos no conglomerado, Arnault ainda não fez um anúncio oficial.

As atenções mais recentes, entretanto, ficaram em torno de Alexandre Arnault, na ocasião da reinauguração da icônica loja da Tiffany em Nova York. O filho do meio, de 31 anos, é vice-presidente executivo de produtos e comunicação da empresa e faz parte do grupo desde 2021.

A questão sucessória também se dá no campo criativo, com a Louis Vuitton subindo às passarelas sob a batuta do rapper Pharrell Williams.

“Estamos nesse momento da sociedade pós-moderna em que temos um consumidor cada vez mais imprevisível, desejando novidade. Isso faz com que a indústria da moda seja pautada por uma grande efemeridade”, diz Andreia.

São dos jovens que cresceram nos berços das tradicionais da moda — bebendo da fonte, da fábrica aos jantares de família — os rostos por trás da renovação. “As marcas têm que inovar e criar cada vez mais campos simbólicos com significados para as pessoas, ou elas morrem”, complementa.

Giorgio Armani pretende deixar império para o sobrinho Andrea Camerana e as sobrinhas Roberta e Silvana Armani (Crédito:Divulgação)

Na Prada, com sede em Milão, não resta dúvidas de que será o primogênito de Miuccia Prada e Patrizio Bertelli, Lorenzo Bertelli, de 35 anos, o novo líder após a morte dos pais, ambos na casa dos 70.

Diferente da mãe, Lorenzo não é designer, mas integra o setor administrativo do grupo, assim como o pai, desde 2015, e hoje é diretor-executivo. Há três anos, o belga Raf Simons divide a criação com a neta de Mario Prada.

“A essência das marcas é forte, é tudo tão percebido e bem estruturado, que se a pessoa sai disso, ela é totalmente trocada”, esclarece Andreia.

Se a abertura criativa se dá de forma mais orgânica, a expansão para o capital interno ainda é tímida entre grifes italianas como a Prada. A concorrência nacional é levada em consideração por empreendimentos do ramo e um esforço além do sucessório precisa ser feito para a sobrevivência desse legado no país que é referência na moda.