11/11/2022 - 9:30
Assim que assumirem, Lula e o futuro ministro da Justiça terão nas polícias vinculadas à pasta um enorme problema para resolver. Bolsonaro não blefou quando, no início do seu governo, disse que iria “desconstruir” muita coisa para depois refazer nos moldes do bolsonarismo, claro. Um dos resultados dessa promessa de desconstrução foi a bolsonarização das forças, o que ficou evidente nos últimos dias, quando a Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi leniente com os manifestantes antidemocráticos que bloquearam estradas em todo o País. Os últimos quatro anos também foram permeados por suspeitas de interferência do capitão na Polícia Federal (PF), numa tentativa de tentar blindar filhos e aliados em investigações de corrupção.
Entre os cotados para a missão de comandar o Ministério da Justiça – e recolocar PRF e PF nos caminhos da institucionalidade – estão o senador eleito Flávio Dino (PSB); o ministro do STF, Ricardo Lewandovski, cuja aposentadoria está prevista para maio de 2023; e os advogados Marco Aurélio Carvalho, Silvio Almeida, Pierpaolo Bottini e Sérgio Renault. Caberá ao sucessor de Anderson Torres na pasta a definição dos nomes dos próximos diretores-gerais da PRF e da PF para o início do trabalho de reconstrução das forças.
Polícias políticas
O trabalho, no entanto, não deve ser fácil. “Há uma certa identificação ideológica entre parte significativa dos integrantes das organizações policiais e o bolsonarismo”, diz a diretora do Múnus Social Data, Fábia Berlatto, que é pesquisadora na área de segurança pública. “A PRF, em especial, se mostrou mais suscetível às influências do grupo político que está no poder.” Para a retomada da institucionalidade na PF e na PRF, Berlatto explica que a primeira medida deve ser investigar e apurar as ilegalidades cometidas e responsabilizar e punir os agentes da cadeia de comando – “da direção-geral até os agentes que transgrediram a lei, tanto por ação quanto por omissão”.
À frente da pasta da Justiça durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro José Gregori diz que é preciso manter com as polícias vinculadas ao MJ um relacionamento “didático e construtivo”, por meio do qual sejam constantemente ressaltados os objetivos cívicos dessas forças policiais. “É inconcebível que as polícias tenham protagonismo na vida política como vêm tendo durante o governo Bolsonaro. Também é impensável que protagonizem episódios de violência como o que resultou na morte de um homem por asfixia dentro do porta-malas de uma viatura da PRF”, diz. Para Gregori, Lula é experiente e sabe da importância de dar à PF e à PRF as condições objetivas de atuar como polícias – “e de fazer com que se mantenham ligadas a sua missão legal”.