“Noite de 5 de abril de 1998, Sesc Vila Mariana, São Paulo. 645 pessoas tiveram o privilégio de ouvir João Gilberto. Show de voz e violão presenciado com atenção e respeitoso silêncio, à exceção de alguns instantes em que o artista convida a plateia a se transformar em coral”, resume Danilo Santos de Miranda, diretor da instituição, sobre o evento que ganhou registro em formato de álbum duplo.

São quase duas horas de música com captação de áudio em alta qualidade, resultado da famosa exigência técnica do músico aliada a equipamento de som de alta performance e recém inaugurado. Nos 118 minutos que foram lançados na plataforma da instituição no dia em que a apresentação completou 25 anos, 36 canções mostram um artista animado e feliz.

João Gilberto faleceu em 2019, aos 88 anos. No lançamento, batizado Ao Vivo no Sesc 1998, ele tinha 66 anos e carregava tanto a fama de criador da Bossa Nova e reinventor do samba quanto a de gênio ranzinza. O último atributo não cabe no álbum duplo, que irá para todas as plataformas de streaming no dia 26 próximo e que igualmente ganhará versão física em CD duplo. O projeto de lançamento de registros de acervo do Sesc chama-se Relicário, e projeta resgatar parte da memória audiovisual da instituição septuagenária. Na primeira parte da coleção serão contemplados shows considerados históricos nas décadas de 1970, 80 e 90. Os áudios são remasterizados e lançados em formato de álbuns.

O repertório da apresentação de João Gilberto traz uma canção que nunca ganhara registro em disco pelo músico, Rei Sem Coroa, de Herivelton Martins e Waldemar Ressurreição. Não faltam os clássicos na voz do artista, como Corcovado (Tom Jobim), Isto Aqui o Que É? (Ary Barroso), Carinhoso (João de Barro e Pixinguinha) e Chega de Saudade (Tom e Vinicius). A última com ajuda de coro da plateia sobre a voz que era para muitos comparada a um sopro, mas que mudou a história da música brasileira.