14/05/2021 - 9:30

O risco de uma terceira guerra entre Israel e o Hamas cresceu após o novo surto de violência que tomou conta da Cisjordânia, Faixa de Gaza e Israel. Os confrontos entre árabes e judeus, que começaram em 4 de maio em um bairro de Jerusalém Oriental, se espalharam pela região. Pelo menos 71 pessoas foram mortas até o dia 12, incluindo 4 crianças. Havia mais de 300 feridos do lado palestino e 200 em território israelense, enquanto a violência crescia. A antiga disputa foi revivida após autoridades judiciárias de Israel retomarem o julgamento para a expulsão de 56 famílias palestinas, que vivem desde 1956 no bairro de Sheik Jarrah. Israel quer remover os palestinos para construir assentamentos de colonos perto da cidade velha de Jerusalém. O território, tomado da Jordânia na guerra de 1967, não é reconhecido como parte de Israel. Enquanto o país reivindica o direito de estabelecer sua capital em Jerusalém de forma plena, os palestinos querem fazer de parte Oriental da cidade a capital do seu futuro Estado.
Um dos estopins para a violência foi a repressão contra manifestantes na Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado do Islã. Além disto, os muçulmanos estão no fim do mês do Ramadã. A polícia de Israel deteve pelo menos 100 manifestantes em 7 de maio. O Hamas, grupo que atua na Faixa de Gaza, viu uma oportunidade. Como vingança, disparou mais de mil foguetes contra Israel. A grande maioria foi interceptada pelo sistema israelense Domo de Ferro, mas um caiu em Ascalon, onde matou três mulheres israelenses. A resposta de Israel foi feroz, com o disparo de dezenas de mísseis .
Embora quase toda a comunidade internacional tenha condenado a violência e pedido moderação a ambas as partes, o que chamou a atenção foi a fraca reação dos EUA. O presidente Joe Biden queria evitar lidar com esse conflito histórico para focar em outros tópicos mais urgentes. A prioridade é a retomada do acordo nuclear com o Irã. Agora, ele já teme que as escaramuças degenerem para um conflito em larga escala no Oriente Médio. Como aconteceu com outros presidentes, Biden será chamado para arbitrar esse tema e colocá-lo no centro da política externa americana. A Rússia e a Turquia pediram por um cessar-fogo e o envio de tropas da ONU à Cisjordânia, solução que Israel rechaça.
Nova Intifada
“A revolta não é uma 3ª Intifada, mas pode vir a ser. A situação política interna em Israel é muito complicada, com o premiê Benjamin Netanyahu demissionário. O Parlamento (Knesset) não consegue formar um novo governo. É um levante de palestinos e árabes nos territórios ocupados, embora ainda não seja uma guerra”, avalia Joaquim Racy, professor de economia política e internacional da Universidade Mackenzie e da PUC-SP. Ele define a reação de Israel como “assimétrica e desproporcional”. Gunter Rudzit, analista de relações internacionais na ESPM, diz que a situação em Israel e nos territórios ocupados é muito grave. “É um caldeirão fervendo e pronto para explodir”.
Segundo ele, ou os palestinos já iniciaram a 3ª Intifada (revolta geral), ou Israel travará uma guerra contra o Hamas. Ele atribui a revolta à falta de perspectiva dos jovens palestinos, que desde 1994 aguardam a formação de um Estado. O especialista compara a região a um “xadrez de três dimensões”, em que atores locais e regionais tentam obter ganhos.
Para o cientista político André Lajst, da organização Stand with us, Israel e o Hamas não têm interesse em lutar um terceiro conflito de larga escala. “Israel não quer desfechar uma invasão terrestre. Já o Hamas tenta insuflar os árabes contra os judeus para obter ganhos eleitorais entre os palestinos.” No meio da disputa estão os civis, que são sempre as primeiras vítimas em cada guerra.