16/09/2022 - 9:30

Que tal inscrever uma obra de arte em um concurso e descobrir que ela ficou atrás de um trabalho feito por um computador? Foi o que aconteceu em um evento no estado do Colorado, nos EUA. Os artistas não gostaram de saber que a imagem vencedora, inscrita pelo designer de jogos Jason M. Allen, na verdade foi criada pelo Midjourney, programa de inteligência artificial que transforma códigos binários em gráficos hiper-realistas. A obra tornou-se uma das primeiras geradas por IA a ganhar um prêmio não voltado ao setor. O resultado desencadeou uma reação feroz, tanto de artistas quanto de usuários das redes sociais. Todos levantaram a mesma questão: afinal, uma obra feita por um computador é arte ou não?
Quando a fotografia surgiu, no final do século 19, dizia-se que aquilo não era arte porque não possuía o traço do artista – bastava pressionar o botão em uma câmera. Com isso, alguém sem habilidades como pintor poderia capturar uma representação realista de uma determinada cena. Esse pensamento logo foi superado, mas será que o mesmo se aplicará às críticas atuais feitas aos programas de IA? O olho humano ainda é necessário para gerar boas imagens, mesmo quando são criadas por um computador “inteligente”. Softwares lançados nesse ano – como DALL-E 2, Midjourney e Stable Diffusion, entre outros – possibilitaram que pessoas sem conhecimento prévio de programação criassem trabalhos complexos e abstratos apenas digitando alguns comandos em uma caixa de texto. Ou seja, em defesa dessa nova corrente, a arte feita por inteligência artificial seria feita por humanos, que usariam os algoritmos apenas como mais uma ferramenta em seu arsenal criativo.

Mudança no mercado
Mas será que há público interessado em consumir esse novo formato? E será que em breve veremos essas obras nas paredes dos museus? Em 2018, a obra “Retrato de Edmond Bellamy”, criada por um coletivo artístico chamado Obvious, com sede em Paris, foi a leilão pela renomada casa Christie’s e foi vendido por US$ 432 mil. Produzida com a ajuda de um algoritmo, o robô foi abastecido com um conjunto de dados com mais de 15 mil retratos pintados entre os séculos 14 e 20, e, a partir desse arsenal, deu origem a um trabalho inédito. “A IA é apenas uma das várias tecnologias que terão impacto no mercado de arte do futuro, embora seja muito cedo para prever quais serão essas mudanças”, afirmou Richard Lloyd, o especialista da Christie’s sobre o tema. Pelo jeito esse leilão foi apenas o começo, uma vez que os artistas digitais – humanos ou não – devem ficar cada vez mais populares.

Memo Akten, artista multimídia turco radicado em Londres, é conhecido por suas investidas no meio digital, seja através de imagens ou vídeos. Também é conhecido por utilizar diversas técnicas, entre elas, esses inovadores programas de IA. Seu trabalho, que já foi exposto em instituições renomadas como o Victoria & Albert Museum, a Royal Opera House e o Royal Festival Hall, também consiste em explicar esses novos conceitos relativos ao setor em palestras e universidades pelo mundo.
No Brasil, o artista brasileiro Hidreley Diao ganhou destaque internacional com imagens que chamam a atenção dos críticos e que também envolvem o uso de inteligência artificial. Hidreley Diao usa a tecnologia para pensar em como seria o rosto de figuras históricas e personagens da cultura popular, com destaque para as obras em que reimaginou as feições de Abraham Lincoln e Marilyn Monroe como se vivessem nos dias de hoje. Ao recriar a face da cantora Madonna, como se ela tivesse envelhecido naturalmente, sem nenhuma intervenção cirúrgica, ganhou elogios da própria cantora. Entre robôs e humanos, o importante é fazer sucesso com o público.