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Que tal inscrever uma obra de arte em um concurso e descobrir que ela ficou atrás de um trabalho feito por um computador? Foi o que aconteceu em um evento no estado do Colorado, nos EUA. Os artistas não gostaram de saber que a imagem vencedora, inscrita pelo designer de jogos Jason M. Allen, na verdade foi criada pelo Midjourney, programa de inteligência artificial que transforma códigos binários em gráficos hiper-realistas. A obra tornou-se uma das primeiras geradas por IA a ganhar um prêmio não voltado ao setor. O resultado desencadeou uma reação feroz, tanto de artistas quanto de usuários das redes sociais. Todos levantaram a mesma questão: afinal, uma obra feita por um computador é arte ou não?

Quando a fotografia surgiu, no final do século 19, dizia-se que aquilo não era arte porque não possuía o traço do artista – bastava pressionar o botão em uma câmera. Com isso, alguém sem habilidades como pintor poderia capturar uma representação realista de uma determinada cena. Esse pensamento logo foi superado, mas será que o mesmo se aplicará às críticas atuais feitas aos programas de IA? O olho humano ainda é necessário para gerar boas imagens, mesmo quando são criadas por um computador “inteligente”. Softwares lançados nesse ano – como DALL-E 2, Midjourney e Stable Diffusion, entre outros – possibilitaram que pessoas sem conhecimento prévio de programação criassem trabalhos complexos e abstratos apenas digitando alguns comandos em uma caixa de texto. Ou seja, em defesa dessa nova corrente, a arte feita por inteligência artificial seria feita por humanos, que usariam os algoritmos apenas como mais uma ferramenta em seu arsenal criativo.

HUMANO Memo Akten: mestre multimídia é uma das vozes mais importantes da arte digital (Crédito:Divulgação)

Mudança no mercado

Mas será que há público interessado em consumir esse novo formato? E será que em breve veremos essas obras nas paredes dos museus? Em 2018, a obra “Retrato de Edmond Bellamy”, criada por um coletivo artístico chamado Obvious, com sede em Paris, foi a leilão pela renomada casa Christie’s e foi vendido por US$ 432 mil. Produzida com a ajuda de um algoritmo, o robô foi abastecido com um conjunto de dados com mais de 15 mil retratos pintados entre os séculos 14 e 20, e, a partir desse arsenal, deu origem a um trabalho inédito. “A IA é apenas uma das várias tecnologias que terão impacto no mercado de arte do futuro, embora seja muito cedo para prever quais serão essas mudanças”, afirmou Richard Lloyd, o especialista da Christie’s sobre o tema. Pelo jeito esse leilão foi apenas o começo, uma vez que os artistas digitais – humanos ou não – devem ficar cada vez mais populares.

VALORIZAÇÃO Base de dados: pintura criada após pesquisa com 15 mil quadros foi leiloada por US$ 432 mil dólares (Crédito:Divulgação)

Memo Akten, artista multimídia turco radicado em Londres, é conhecido por suas investidas no meio digital, seja através de imagens ou vídeos. Também é conhecido por utilizar diversas técnicas, entre elas, esses inovadores programas de IA. Seu trabalho, que já foi exposto em instituições renomadas como o Victoria & Albert Museum, a Royal Opera House e o Royal Festival Hall, também consiste em explicar esses novos conceitos relativos ao setor em palestras e universidades pelo mundo.

No Brasil, o artista brasileiro Hidreley Diao ganhou destaque internacional com imagens que chamam a atenção dos críticos e que também envolvem o uso de inteligência artificial. Hidreley Diao usa a tecnologia para pensar em como seria o rosto de figuras históricas e personagens da cultura popular, com destaque para as obras em que reimaginou as feições de Abraham Lincoln e Marilyn Monroe como se vivessem nos dias de hoje. Ao recriar a face da cantora Madonna, como se ela tivesse envelhecido naturalmente, sem nenhuma intervenção cirúrgica, ganhou elogios da própria cantora. Entre robôs e humanos, o importante é fazer sucesso com o público.