Delegado da Cunha – 3,3 milhões de seguidores no YouTube

Vestindo camisa polo com o brasão da Polícia Civil de São Paulo, o Delegado Carlos Alberto da Cunha, ou Delegado da Cunha, como é conhecido nas redes sociais, pergunta aos seus 2,2 milhões de seguidores do Instagram se ele deve deixar a carreira de policial para virar deputado federal. As respostas são conflitantes. Há quem ache que, se o delegado for para a política, não conseguirá mais partir “pra cima deles”, uma de suas frases de efeito quando o assunto é perseguir “bandidos”. Cunha é apenas um policial, mas cada vez mais é possível ver outros, civis e militares, aderindo às redes sociais. Com perfis de justiceiros, repletos de armas de fogo, as contas se espalham sem uma lei específica que controle o que pode ser publicado ou não. Para justificar seu questionamento sobre se adotará a carreira política, Cunha diz que trabalha para eles, seus seguidores, e não necessariamente para a população em geral. A conversa franca com quem o apoia acontece porque ele chegou a ser afastado do cargo no final do ano passado por causa de suas publicações — as operações militares — que agora dão lugar a simulações. Em uma das publicações, ele finge apreender o carro de luxo de um amigo. A temática é “perdeu, Playboy”.

“Cada um luta com a sua arma e a minha nunca vai ser o teclado e sim o fuzil” Delegado da Cunha, policial civil

FALSIDADE Em busca de cliques, o vereador Monteiro ilude crianças e orienta morador de rua a simular um furto (Crédito:Divulgação)

Em uma foto segurando um fuzil, há um leve tom de ameaça a quem é contra o que ele faz na internet. “Cada um luta com a sua arma, a minha nunca vai ser o teclado e sim o meu fuzil”, escreve. Vale lembrar que o fuzil não é de propriedade pessoal do delegado, mas sim da instituição da qual ele faz parte. Segundo o advogado Gabriel Toffoli é difícil definir se essas atitudes configurariam um crime. “É uma linha tênue, não é ilegal, mas pode ser considerado imoral”, diz. O estado de São Paulo, por exemplo, tem uma normativa que proíbe a ostentação de armas pela polícia militar.

Gabriel Monteiro – 6,2 milhões de seguidores no YouTube

“Tenho o costume de gravar de forma consensual atos meus e tenho esse ato sexual gravado”
Gabriel Monteiro, ex-policial e vereador no Rio

TIRO CERTO A ex-policial e ex-modelo Gabriela promove o uso de armamentos e é coach de concursos públicos (Crédito:Divulgação)

No YouTube do delegado, que possui espantosos 3,3 milhões de inscritos, os roteiros são os mesmos do Instagram, porém mais longos. Cunha, que foi proibido de publicar vídeos das operações policiais, se diz perseguido. “Se não foi perseguição, por que nenhum procedimento (administrativo) foi para frente?”, questiona em um dos vídeos. Apesar de ser um dos policiais mais famosos, Cunha não está sozinho. O ex-policial militar e vereador no Rio de Janeiro, Gabriel Monteiro (sem partido), chocou o Brasil. Vídeos obtidos pela TV Globo mostraram que a carreira de influenciador foi construída com muita invenção e engano de menores. Para seus mais de 6 milhões de seguidores no YouTube, o ex-policial publica vídeos com ações da corporação e se define como defensor dos “direitos humanos para humanos direitos”.

Gabriela Queiroz – 234 mil seguidores no Instagram

“Nunca postei o conteúdo de investigações, vídeos efetuando prisões ou algo do tipo” Gabriela Queiroz, ex-policial e funcionária pública

Em um dos vídeos onde aparece dando comida para crianças carentes em um shopping, o vereador diz exatamente o que a criança deve repetir. Com as acusações de assédio moral e sexual por parte de seus ex-funcionários, o conteúdo atual de Monteiro tem sido o de atacar a imprensa. A mais recente revelação envolvendo o vereador diz respeito ao vazamento de um vídeo íntimo dele com uma menor de 15 anos. “O vídeo com a garota é consensual, como provou a mãe. A idade era 18 anos”, escreveu no Twitter. Segundo Monteiro, a menina afirmou que era maior de idade na época da gravação e, por isso, seria inocente e “perseguido”.

As mulheres de farda também estão nas redes sociais. A ex-policial civil Gabriela Queiroz, apesar das imagens e dancinhas com armas, colocou-se na vida digital como “coach para concursos”. Funcionária pública, recém-assumiu o cargo de analista no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-BA) e em seu perfil dá dicas sobre estudos e pitacos da época de sua carreira como policial. Ela alega que nunca publicou conteúdo de investigações.