Os membros da família real se recusaram a comentar sobre o conteúdo dessa série.” A mensagem exibida no início de Harry & Meghan dá uma amostra da animosidade que vem pela frente. A nova produção da Netflix é um ataque frontal à família real e ao próprio conceito da monarquia britânica. Dividida em seis episódios, traz a versão do casal sobre as causas que levaram ao afastamento da família real. Além da vingança, o objetivo é alcançar a independência financeira: a estimativa é de que o valor do contrato dos duques de Sussex com a plataforma de streaming seja de US$ 150 milhões, cerca de R$ 1 bilhão. O acordo prevê o desenvolvimento de outras séries, documentários, filmes e programas infantis.

Harry & Meghan é basicamente uma longa entrevista com o casal, intercalada com imagens que tentam passar a impressão de que eles são gente como a gente. Há também uma tentativa clara de colar a imagem de Meghan à de Diana, pegando emprestado a empatia que o público tem pela mãe de Harry. Ele alega que o trabalho dos paparazzi, responsável pela morte da princesa em 1992, após uma perseguição em Paris, poderia levar a uma nova tragédia. Para justificar a saída da Inglaterra, o príncipe diz que pensou na segurança da mulher e do filhos, Archie e Lilibet.

SEM GLAMOUR Nada de bailes de gala: o príncipe e a atriz se conheceram pelo Instagram (Crédito:Divulgação)

Os detalhes sobre o romance são os momentos mais curiosos da série. Como se conhece um príncipe? Engana-se quem pensou em bailes de gala ou cerimônias glamourosas. Harry e Meghan se conheceram pelo Instagram, como milhões de casais em todo o mundo. Ao se encantar com uma foto dela na plateia do torneio de Wimbledon, descobriu que tinham uma amiga em comum. Ele entrou em contato e os dois passaram a trocar mensagens. Decidiram se encontrar para um drinque. No dia seguinte, um jantar.

Quando o relacionamento engatou, viajaram a Botswana, na África, onde passaram uma semana dormindo em uma tenda. Na volta, começaram a viver na ponte-aérea Londres-Toronto, onde Meghan morava e trabalhava como atriz na série Suits. A exposição da intimidade é total: há cenas até do momento em que Harry pediu Meghan em casamento, de joelhos, em meio a um círculo de velas.

Apesar do tom apaixonado que o casal insiste em exibir, é óbvio que a série é recheada de lamentações. Há denúncias do racismo sofrido por Meghan por ela ser “mixed-race”, ou seja, filha de mãe negra e pai branco. Os ataques vieram de todos os lados: dos tabloides, das redes sociais e até mesmo da realeza. Ao perceberem que não podiam contar nem com a própria família para se defender, Harry e Meghan tomaram a decisão radical: abandonaram a realeza e decidiram viver como pessoas normais – a única diferença é a conta bancária, bem mais recheada que a da maioria dos seus ex-súditos.

Rei Charles III não vai gostar

O rei Charles III não ascende ao trono em um bom período para a família real. Além da série Harry & Meghan e da nova temporada de The Crown, que exibe as injustiças sofridas pela princesa Diana, a realeza terá de enfrentar as acusações contidas na biografia de Harry, que sai em 10 de janeiro.

Em comunicado, ele explica que não escreveu O Que Sobra como príncipe, mas como o homem que se tornou: “Minha esperança é que, ao contar minha história – os altos e baixos, os erros e as lições aprendidas – eu possa ajudar a mostrar que não importa de onde viemos, temos mais em comum do que pensamos”.

Entre os erros que se tornaram públicos certamente estará o período final de sua adolescência, quando foi flagrado usando drogas e abusando de álcool. Outro episódio que estará no livro é o escândalo explorado pelos tabloides quando Harry apareceu em uma festa à fantasia vestido de nazista. Para tentar consertar a situação, ele se reuniu com o rabino de Londres e visitou um sobrevivente do holocausto em Berlim, na Alemanha.

Harry também se aprofunda sobre a complexa relação entre os tabloides britânicos e a família real. O acordo não oficial prevê que os membros da realeza sejam condescendentes com a imprensa em troca de uma cobertura favorável, situação que o príncipe nunca aceitou – não apenas por causa dos ataques racistas sofridos por Meghan, mas principalmente porque ele culpa a mídia pela morte da mãe, Diana.