Tenta ganhar uma vaga no Senado italiano, por meio das eleições legislativas, o ex-piloto brasileiro Emerson Fittipaldi — bicampeão de Fórmula 1 e campeão da Indy, com duas vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis. Aos 75 anos e mergulhado num poço de dívidas sob a acusação de ser péssimo pagador, ele também corre agora de ações judiciais por calotes estimados em R$ 50 milhões. Declara à imprensa já tê-las resolvido porque assim pode ser candidato a um cargo político – o salário mensal é de cerca de 18 mil euros (R$ 90 mil). Foi convidado por telefone pela deputada Giorgia Meloni, próxima de se tornar primeira-ministra, para concorrer pelo partido Irmãos da Itália, de extrema direita e com raízes fascistas. Ele vive entre Orlando, nos EUA, e a residência no lago de Garda, na Itália. Atua como manager de Emmo Jr., caçula de seus sete filhos que, aos 15 anos, inicia carreira no automobilismo, correndo em etapas da F-4 pela Europa. Caso seja eleito, Emmo pai teria obrigações políticas, como comparecer ao Parlamento. Enquanto aguarda a eleição de 25 de setembro, afirma que seu partido não é fascista, mas “cristão”, e acredita ter apoio de Jair Bolsonaro e de seus admiradores como esportista. Ele mesmo é fã de Silvio Berlusconi, o ex-primeiro-ministro bufão, extremista de direita.

Para a eleição em 25 de setembro, já colocou ideias no papel, conforme falou à mídia. Quer manter a cidadania por “direito de sangue”, como a dele; defender direitos equivalentes aos de atletas ítalo-brasileiros, assim como de advogados e jornalistas, criar uma Universidade Internacional e fazer com que turistas italianos descubram as belezas do Brasil.

Fittipaldi concorre com o empresário Andrea Matarazzo, que foi embaixador em Roma, além de ministro da Comunicação, secretário estadual e municipal, e vereador em São Paulo. Com 65 anos, vive na capital paulista e apresenta sua experiência para pedir votos feito candidato da coligação do Partido Democrático. Como senador, pretende estreitar a integração entre italianos e brasileiros em diversas frentes, da econômica à cultural, facilitando parcerias como de empresas pequenas e médias, e trabalhar para que a América do Sul seja vista como força jovem e criativa. Para isso, quer melhorar os serviços consulares.

“É preciso valorizar a cidadania italiana, porque o que se oferece é muito mais que um passaporte: a Itália é porta de entrada para toda a Europa, para estudar e trabalhar”, diz Matarazzo, que mudará para a Itália, se eleito. Empresário e gestor público, observa que seu rival tem nome forte “como esportista”, enquanto ele, Andrea, “no grid e na pista, não seria nada e nem saberia o que fazer”.

Com a reforma legislativa de 2020, o total de 945 cadeiras do Parlamento caiu para 600, sendo 400 deputados e 200 senadores. A medida resultou em economia anual de 61 milhões de euros (mais de R$ 200 milhões), sendo 41 milhões menos do Senado e 20 da Câmara. As vagas da América do Sul foram cortadas pela metade; em 2022 são duas para deputado e uma para senador (o maior colégio é o da Argentina, com 770 mil aptos a votar, seguida do Brasil, com 430 mil). As cédulas chegam à casa de cada eleitor pelo correio (depois de assinalados os votos, envelopes próprios são reenviados para os consulados) e, ainda assim, em 2018 houve abstenção de 70%.

Claudio Gatti

“É preciso valorizar a cidadania italiana, porque o que se oferece é muito mais que um passaporte: a Itália é porta de entrada para toda a Europa, para estudar e trabalhar”
Andrea Matarazzo, empresário e político, candidato ao Senado italiano

A imprensa italiana calcula que senadores e deputados recebam 18 mil euros por mês (por volta de R$ 90 mil). Isso, em cima da base oficial, em torno de 12 mil euros, que sofre descontos de taxas e previdência social, mas é acrescida de bônus que passam dos 5 mil líquidos.

Boa parte das críticas dos italianos sobre candidatos do Exterior é pela ausência desses no Parlamento (alguns só mantêm 30% de participação nas sessões, o mínimo para não perder parte da verba do mandato de cinco anos). Eleitos como deputados do Brasil em 2018, voltam à disputa Luis Roberto Lorenzato, da Liga, partido radical de direita, e Fausto Longo, do Partido Democrático (o primeiro se ausentou em 67,20% das chamadas, e o segundo, em 54,01%). Fabio Porta, do PD, também está nessa disputa, depois de ocupar a vaga de senador aberta pela cassação de Adriano Cario. O uruguaio falsificou votos em algumas milhares de cédulas eleitorais. constatada a fraude por perícia caligráfica e na tinta, que indicou preenchimento por uma única pessoa.