16/09/2022 - 9:30
Políticos brasileiros têm a manha da metamorfose para sobrevivência. Passam pela arte da camuflagem em ambientes de risco. Essa ‘fauna’ eleitoral sabe se movimentar sob tempestades para assegurar um teto — principalmente quando números apontam horizontes sombrios. Chefe da Casa Civil do Governo de Jair Bolsonaro (PL), Ciro Nogueira deu uma guinada nas redes sociais há dias. Parou de nominar “adversários” no Congresso e cita apenas Lula e o PT nas críticas nos posts no Twitter. Outrora um aliado palaciano (claro) de Lula da Silva e Dilma Rousseff, ele não quer detonar pontes construídas em 30 anos de política. Outro veterano no Palácio, Valdemar da Costa Neto, dono do PL, liberou amigos para ajudar Lula em importantes redutos eleitorais. Anderson Adauto, ex-ministro dos Transportes, é o nome dele junto ao PT em Minas Gerais. E o presidente da Câmara, um hoje bolsonarista Arthur Lira (Progressistas-PB), convocou um preposto de confiança para iniciar um diálogo com a bancada do PT, a fim de se manter no cargo.
Ciro Nogueira, Valdemar e Lira cuidam do futuro, como sempre fizeram em outros governos: ponte com a oposição é uma arma para sobrevivência
Fim da farra secreta

Lula avisou aos petistas e socialistas, potenciais nomes para a Legislatura de 2023, que eles têm uma missão emergencial a partir de fevereiro, caso eleitos para o Congresso Nacional: extinguir o orçamento secreto. É missão dada. Que se virem nas Casas para convencer os pares do contrário. Inclusive quem do grupo se esbaldou com isso esse ano.
Alckmistas ganham protagonismo
O promotor Saulo de Castro Filho entrou no ritmo da campanha. Ex-secretário de Governo de Geraldo Alckmin, tem aval do vice de Lula para montar equipe de confiança visando ao ministério: ele é cotado para a Justiça ou Casa Civil, caso o petista seja eleito. Saulo faz reuniões com ex-colaboradores que desfilaram pelo Palácio Bandeirantes na gestão do tucano. As movimentações de alckmistas no entorno de Lula confirmam o que a Coluna publicou: o petista quer dar protagonismo ao vice numa eventual administração. É cedo ainda, e falta combinar com o eleitor: Alckmin já começa a fazer sombra a qualquer pretenso candidato petista para 2026.
Só o comércio explica essa boa vontade

Um fator significante justifica o salão lotado no Palácio da Alvorada quando o presidente Bolsonaro convidou embaixadores para falar asneiras sobre a urna eletrônica: grandes e bons negócios bilaterais. A despeito do susto com o discurso, a turma da diplomacia, acredite, anda de bem com o presidente. Um analista de trânsito em embaixadas tem ouvido deles que consideram boa a gestão de Bolsonaro, apesar dos rompantes. Todos, porém, evitam falar de público para não atrapalhar futuros contratos se o presidente sair. Não querem problemas com a esquerda, cujas pautas “politicamente corretas” são bem-vindas.
Esquerda já articula contra Lira

Presidente da Câmara, Arthur Lira está com a reeleição ameaçada. Os partidos de centro-esquerda estimam eleger 240 deputados na Casa. A lista inclui nomes do PT, PSOL, PDT, PSB, Solidariedade e, claro, esse grupo conta com não-bolsonaristas do MDB e com a esperança de que Gilberto Kassab assuma o PSD na frente parlamentar. Vão tentar impedir a recondução do deputado ligado ao ministro Ciro Nogueira, hoje – vale frisar, hoje – um bolsonarista. E quem seria esse nome da centro-esquerda para o comando da Câmara? Arlindo Chinaglia (PT-SP), de bom trânsito e que acreditam ser eleito deputado.
Cândido e a licença para transitar
O ex-deputado federal Vicente Cândido (PT-SP) não vai se candidatar esse ano. Continuará advogado, mas tem articulado candidaturas de petistas. Em especial no interior de São Paulo. Visa futuro protagonismo dentro do partido e trânsito livre na praça com cartão da executiva regional.
O silêncio de Adélio
Tem candidato apostando que será breve o silêncio de Adélio Bispo, o confesso esfaqueador do então candidato Bolsonaro em 2018. As visitas ao preso são constantes. Bolsonaristas empedernidos indicam que ainda nessa campanha Adélio pode aparecer “revelando” que o crime foi encomendado – contrariando o que a Polícia Federal já apurou.
Soberba pode derrubar
Há uma palavra tão latente no staff de Lula e Alckmin quanto a certeza dos índices que indicam a liderança da dupla: soberba. É proibido no comitê falar em derrota. Mas têm sido mais cautelosos. Alckmin não soma votos – e perdeu o eleitor fiel. Lula se segura no carisma e na rejeição de Bolsonaro. Segundo turno é outra eleição.
Nos bastidores
E a mágoa só cresce
Ciro Gomes (PDT) anda mais ácido porque tentou, mas não esquece o tombo que levou de Lula em 2018 – que prometeu apoiá-lo para presidente e optou por Fernando Haddad (PT).
Vigilante do Atlântico
O comando da Marinha do Brasil está muito animado com o avanço da construção dos bilionários submarinos de propulsão nuclear. O aparelho poderá fazer a rota Rio de Janeiro-Natal em menos de 2 horas.
Seus dados na esquina
A Secretaria de Governo Digital cometeu o crime de ceder para bancos dados de 130 milhões de pessoas registrados no app Gov.br. São fotos, informações pessoais e até biometria. Não duvide, leitor, se achar pen drive na rua com seu nome.
Literatura indígena
A charmosa vila de Caraíva, litoral de Porto Seguro, sedia de 21 a 24 desse mês a 1ª feira literária CAJU, com temática indígena nessa edição – que deve ser anual. Serão atividades na Aldeia Xandó.