Perspectivas 2023 – Cultura

Para alivío dos artistas e do público, o controle relativo da pandemia trouxe de volta a vida cultural presencial com força em 2022. Talvez seja o desejo reprimido, talvez seja a esperança, mas nem as previsões mais otimistas sonhariam com o cenário de retomada dos espetáculos ao vivo que teremos em 2023. Antes mesmo do carnaval chegar, a agenda abre-se no Rio Grande do Sul, na cidade de Xangri-Lá. É lá que, após um hiato de dois anos, o Planeta Atlântida almeja reunir uma plateia de 75 mil pessoas. Como de costume, ao longo de seus 25 anos de história, o line-up será focado em atrações nacionais e uma ampla gama de estilos, de Ivete Sangalo e Ludmilla a Luan Santana e Jota Quest.

METAL PARKWAY Drive: banda australiana será o destaque do Summer Breeze, evento europeu que ganha primeira edição brasileira em abril (Crédito:Mairo Cinquetti )

Em São Paulo, em março, o Lollapalooza finalmente realizará o sonho de quem ficou a ver navios durante a pandemia: sua grande atração, a cantora Billie Eilish, se apresentará pela primeira vez no País após o cancelamento da turnê, em 2020. Os fãs mais ansiosos, que quiserem antecipar o que verão no palco, podem conferir uma prévia em 27 de janeiro, quando os cinemas exibirão Billie Eilish: Live at the O2, registro da turnê mundial Happier Than Ever dirigido por Sam Wrench. O Lollapalooza trará ainda os rappers Lil Nas X e Drake, a banda punk Blink-182, os indies do Tame Impala e a cantora espanhola Rosalía. Já a tribo dos alternativos estará na primeira fila para ver o Jane’s Addiction, banda liderada pelo criador do festival, o vocalista Perry Farrell.

O mês de abril será dedicado ao rock pesado, com duas grandes celebrações em São Paulo separadas por apenas uma semana: a sétima edição do Monsters of Rock, que volta ao País após sete anos, reunirá os veteranos Kiss, Deep Purple, Scorpions, Helloween e Saxon. Já o Summer Breeze, evento europeu que aterrissa pela primeira vez no Brasil, aposta na quantidade e na variedade de estilos dentro do rock pesado – serão mais de 40 shows, ao todo, entre outras experiências – e novos nomes do heavy metal, entre eles Parkway Drive, Lamb of God e os brasileiros Project 46 e Crypta. No mesmo dia do Monsters of Rock, acontece em Belo Horizonte o Breve Festival, com shows que alternam nomes internacionais, como a cantora inglesa Joss Stone, e artistas brasileiros, a exemplo de Alceu Valença.

MPB Marisa Monte: artista se apresenta no festival Coolritiba ao lado de Gilberto Gil e Mano Brown (Crédito:PABLO PORCIUNCULA BRUNE)

Em maio a agenda musical volta ao sul, para a sexta edição do festival Coolritiba, na capital paranaense. O evento no Parque das Pedreiras, que abriga a Pedreira Paulo Leminski e a Ópera de Arame, também será marcado pela diversidade de ritmos – o elenco inclui, entre outros, Marisa Monte, Gilberto Gil, Sandy e Mano Brown.

O festival mais aguardado do ano acontece no segundo semestre. A capital paulista finalmente ganha o seu “Rock in São Paulo”, versão do Rock in Rio realizada pela família Medina, criadora do tradicional festival carioca. Como o megashow no Rio acontece apenas de dois em dois anos, os organizadores trouxeram sua expertise para seis shows consecutivos no Autódromo de Interlagos, em setembro. The Town (A Cidade), como foi batizado, terá um investimento pesado de R$ 300 milhões. O resultado também é ambicioso: os produtores esperam movimentar R$ 1,7 bilhão de reais na economia e gerar mais de 20 mil empregos.

DE VOLTA Indiana Jones e o Chamado do Destino: Harrison Ford retorna como o arqueólogo quinze anos após a última participação (Crédito:Divulgação)

Outra data aguardada pelos fãs de música é o Primavera Sound, tradicional festival espanhol que acontece em outubro no Espaço Anhembi, em São Paulo. Sua primeira edição, em 2022, teve o melhor show do ano passado no Brasil: o da banda inglesa Arctic Monkeys, que promoveu o lançamento de The Car, seu novo e incrível álbum. O The Town e o Primavera Sound ainda nem divulgaram suas atrações. Pelo tamanho do investimento, porém, pode-se esperar uma lista com os maiores artistas da atualidade. No caso do Primavera, a edição divulgada na Europa é um bom indício do que vem por aí: Depeche Mode, Kendrick Lamar, Pet Shop Boys e Blur foram anunciados como atrações principais.

Apostas sem risco nas telas

Nas produções que chegarão aos cinemas e streamings, o ano terá como destaque os super-heróis e protagonistas de grandes franquias. Isso demonstra a consolidação desse formato como o grande motor de lucro dos estúdios, uma vez que o público procura, com frequência, assistir a filmes e séries estreladas por personagens já conhecidos. Entre as produções da Marvel e DC, as duas principais fontes de super-heróis, a lista é longa: Homem-Aranha – Através do Aranhaverso, Homem-Formiga e a Vespa 3, Guardiões da Galáxia 3 e The Marvels são as grandes apostas. Nas franquias, como são chamadas as sequências dos filmes de sucesso, teremos a volta de astros interpretando seus papéis mais conhecidos. Tom Cruise será Ethan Hunt mais uma vez em Missão Impossível 7: Acerto de Contas; Keanu Reeves vai estrelar John Wick 4; Eddie Murphy será novamente Axel Foley em Tira da Pesada 4. Nenhuma continuação, porém, é tão esperada quanto Indiana Jones e o Chamado do Destino, que terá Harrison Ford, aos 80 anos, na pele do arqueólogo Indiana Jones pela quinta vez – quinze anos depois do último filme da série.

ROSA CHOQUE Margot Robbie como Barbie: filme de Greta Gerwig leva às telas a boneca mais popular do mundo (Crédito:Divulgação)

Também chegarão às telas nomes conhecidos do público infantil em produções para adultos: Barbie, dirigido por Greta Gerwig, traz Margot Robbie como a popular boneca; o querido herói bigodudo dos videogames ganhará a animação Super Mario Bros – o Filme. Quem quiser fugir dos blockbusters terá boas opções: Killers of the Flower Moon, de Martin Scorsese, reunirá pela primeira vez a dupla Leonardo DiCaprio e Robert DeNiro, os maiores parceiros do diretor nova-iorquino; Oppenheimer, de Christopher Nolan, trará Cillian Murphy no papel de Robert Oppenheimer, físico responsável pela criação da bomba atômica; Bradley Cooper dirige e atua em Maestro, cinebiografia do regente Leonard Bernstein – ele também um herói para os admiradores da música clássica.

‘É importante resgatar a alma nacional’

Divulgação

A maior mudança cultural do Brasil em 2023 acontece fora dos palcos: a recriação do Ministério da Cultura (MinC). Como fez em sua primeira gestão, com a nomeação de um artista (Gilberto Gil), o presidente Lula agora indicou a cantora baiana Margareth Menezes. Ela já sinalizou que pretende retomar programas de incentivo, como uma versão “resignificada” da Lei Rouanet, além de colocar em prática as leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2. “Temos de aproveitar todo o nosso potencial e voltar a promover o intercâmbio com outros países. Isso fortalece a identidade nacional”, afirmou. “É importante resgatar a alma nacional. A cultura não é só arte, ela é econômica, estética e cidadã.” Segundo a ministra, um levantamento apontou que a criatividade brasileira é a sétima mais influente do mundo e emprega mais de cinco milhões de pessoas.