02/12/2022 - 9:30
O PT planejou uma grande festa para marcar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, mas nos últimos dias essa expectativa começou a ser ofuscada pela preocupação com a possibilidade de incidentes provocados por bolsonaristas. O esvaziamento gradual das manifestações antidemocráticas que tomam o País há um mês não representa uma redução do risco de atos violentos em datas-chave para o governo eleito, como a diplomação de Lula e Geraldo Alckmin, no dia 12, e a cerimônia de posse, no dia 1º. A análise, discutida em Brasília, parte de nomes influentes da equipe de transição e de ministros do Tribunal Superior Eleitoral. Autoridades apontam que, embora parte dos apoiadores de Jair Bolsonaro tenha decidido voltar para casa, os extremistas permanecem nas ruas. O sinal de alerta, aliás, soou mais alto ao longo da última semana, quando fardados da ativa engrossaram o movimento pró-intervenção militar e civis convocaram atiradores e caminhoneiros para protestos contra o presidente eleito.
A equipe de segurança do TSE, comandada por Disney Rosseti, vê a diplomação como o “Dia D”, porque a solenidade representa a “linha de chegada das eleições”, uma vez que é nela que a Justiça atesta que a chapa presidencial eleita está apta para tomar posse. Será a segunda vez em que Lula e Alckmin estarão juntos na sede do tribunal desde a proclamação do resultado das urnas. “Em um ano como esse, no qual tivemos eleições polarizadas e episódios de violência pelo País, é claro que a data da diplomação sempre foi uma preocupação”, pontua um interlocutor do TSE, sob reserva.

O tribunal estuda o reforço da segurança. O entorno da corte ficará bloqueado, detectores de metais serão montados na entrada e agentes da Polícia Militar estarão a postos para dispersar eventuais protestos. Até mesmo rotas de fuga foram alinhadas, como nas eleições. Ali, o cuidado costuma ser redobrado porque o TSE ladeia embaixadas dos EUA, do Reino Unido e da França. Há receio quanto a “lobos solitários”, que podem tentar furar bloqueios e chegar perto dos edifícios-sede.
O PT espera que o agendamento da diplomação para o dia 12, sete dias antes do prazo final, ajude a dispersar ainda mais os movimentos antidemocráticos a duas semanas da posse. A data, aliás, foi alinhada com a cúpula do TSE. É que a realização da solenidade só pode ocorrer após o julgamento das contas da campanha. A equipe de Lula, então, consultou Ricardo Lewandowski, vice-presidente do tribunal e relator do processo, o qual sinalizou que levará a ação ao plenário nesta semana.
Por isso, causou estranheza na equipe de transição a informação de que Anderson Torres, ministro de extrema confiança de Jair Bolsonaro, pode voltar ao comando da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, que fará o desenho do megaesquema de segurança. O entorno do governador Ibaneis Rocha minimiza os burburinhos e afirma que o martelo não está batido. “A questão está inserida numa conjuntura política muito maior do que o DF. Sequer sabemos qual o nível do problema de Torres com ministros do STF e o PT. Tudo será colocado à mesa”, diz um emedebista nos bastidores. Fato é que, no Supremo, a notícia não foi bem recebida. Ministros não esquecem do papel de Torres na tentativa de liberar a entrada de caminhões na Esplanada no Sete de Setembro deste ano, o que permitiria reproduzir o tumulto de 2021, quando militantes passaram dias acampados em frente a prédios oficiais intimidando autoridades.
Em 1º de janeiro, aliás, algumas medidas elaboradas para o Dia da Independência tendem a ser reaproveitadas. A Esplanada será bloqueada para a entrada de veículos não oficiais pois há a previsão de eventos no gramado, no Congresso e no Planalto. Barreiras antidrone serão instaladas, haverá proibição de entrada com objetos pontiagudos ou capazes de provocar fogo e equipes de segurança revistarão os presentes. Petistas, contudo, estão céticos. Acham que será difícil conter a entrada de bolsonaristas — afinal, como identificá-los sem sombra de dúvidas? Não à toa, oficiais se espalharão para retirar do local quem provocar tumulto. Paira, porém, a preocupação com a integridade física de militantes.

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Sob os holofotes, o PT evita falar sobre os riscos. Procurado, o partido pontuou que não comenta questões de segurança. Janja desconversou a respeito do assunto. “A preocupação com segurança é normal como a de qualquer ato que envolve um presidente da República.” Com essa atitude, o partido busca tratar do tema apenas internamente e evitar alarmismo, o que poderia esvaziar o evento em que Lula quer bater recordes, tanto em número de apoiadores, quanto na quantidade de autoridades estrangeiras presentes. Nos bastidores, a conversa é outra. Um dirigente partidário alinhado a Lula resume bem. “É preciso ter um cuidado especial, porque o nível de radicalização da extrema-direita subiu muito. Temos que enfrentar as ameaças com altivez. Mas, lembremos, o seguro morreu de velho.”
“Lulapalooza”
Numa alusão ao festival de música mais popular do País, o Lollapalooza, o PT está organizando para a solenidade de posse no próximo dia 1º, em Brasília, o seu “lulapalooza”, como já está sendo chamado nos bastidores o grande evento musical que será realizado na Esplanada dos Ministérios para comemorar o início do terceiro mandato de Lula. Sob coordenação da futura primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, o “festival do futuro” contará com shows de 18 artistas populares, como Pabllo Vittar, Martinho da Vila, Gabi Amarantos e Maria Rita, entre outros. Eles se apresentarão em dois palcos, um em homenagem à memória de Elza Soares e outro à de Gal Costa, ambas falecidas neste ano. A primeira-dama revela que convidou pessoalmente também os músicos Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ludmilla e Emicida, mas eles ainda não confirmaram presença. “Vamos celebrar o governo que foi eleito por todas e todos que defendem um Brasil socialmente mais justo, democrático e humano”, disse Janja no Twitter, na quarta-feira, 30.