ESTILO Alexandre Won faz peças sob medida e usa a técnica do “bespoke”: o que importa é o desejo do cliente (Crédito:Pedro Dimitrow)

Há uma demanda crescente por produtos personalizados, feitos à mão e sob medida, como eram criados no passado. O fenômeno se exibe especialmente no mercado de vestuário, onde uma nova geração começa a consumir itens de alfaiataria e sapataria artesanal, reabilitando atividades que estavam meio esquecidas e costumavam ser transmitidas de pai para filho. Quem detecta esse movimento intenso é o alfaiate Milton Silva, de 80 anos, que está na profissão, herdada do pai, desde a infância e hoje percebe que sua arte recuperou o esplendor. Silva fez parte da era de ouro dos alfaiates em São Paulo e está mais ativo do que nunca. Ele nem pensa em largar a profissão por ser octogenário, principalmente num momento em que os negócios prosperam. “Se sair daqui (do ateliê), eu morro. Já tomei as vacinas, mas como não posso atender o público, estou trabalhando nos ternos de um cliente que perdeu muito peso na pandemia e mandou sessenta peças para o ajuste”, diz. Seu pai e professor, Abílio Silva, veio da Bahia, onde atendia políticos locais, como Francisco Peixoto de Magalhães Neto, o pai de Antônio Carlos Magalhães.

+ Vizinho reclama de roupas de jovem e investigado por crime contra a honra
+ Escaneamento corporal viabiliza produção em escala de roupas sob medida
+ Gucci abre arquivo histórico de roupas para filme com Lady Gaga

O alfaiate Alexandre Won, hoje com 40 anos e a metade das primaveras de Milton, também já é veterano e, apesar da mãe costureira, decidiu botar a fita métrica na mão depois de contratar um profissional famoso e mandar reformar seu costume mais de seis vezes sem ficar satisfeito. “Levei o terno para casa frustrado e desmontei a peça, comecei a entender o que era tudo aquilo. Até os 12 anos sempre tinha usado peças feitas pela minha mãe, então eu tinha algum contato com o assunto, e comecei no bespoke”, diz. O bespoke é a técnica de fazer roupas de acordo com os desejos do cliente, após conversar sobre suas necessidades. A fama de Won, um dos alfaiates mais procurados do País, veio com o boca a boca e talvez a sua aparência, que pouco lembra a imagem associada a um alfaiate, tenha ajudado: olhos puxados, músculos aparentes, tatuagens e o jeito moderno e elegante de se vestir. “Acho que fui o primeiro a usar essa técnica em São Paulo e é muito legal ver que a profissão tenha apelo, que os mais novos queiram trabalhar com isso e até me procurem para dicas”, diz.

BELEZA E CONFORTO Sapato pintado à mão de Elisa Marchi (Crédito:Divulgação)

Artesanato para os pés

Mas de nada adianta ser elegante apenas das canelas pra cima, é preciso investir nos pés. Lívia Ribeiro, ao ver o avô fundar um império de botinas em Franca, conhecido pólo calçadista no interior paulista, decidiu que também faria o seu e conseguiu. Sua marca “Louie” vende calçados feitos à mão, com uma delicadeza que é encontrada em poucos lugares do mundo. Apesar de não trabalhar com sapatos sob medida, sua técnica é artesanal, limitada e feita com as melhores matérias-primas. Lívia, diretora criativa da marca, confirma que os calçados feitos à mão e sob medida são uma tendência que só cresce e isso pode ser visto no trabalho da também sapateira e artesã catarinense Elisa Marchi. Após se formar em Moda, ela decidiu fazer sapatos usando como marca seu próprio nome, mesmo sem ter um familiar no ramo. “Há cinco anos tenho uma marca que só vende online, então não fui afetada pela pandemia”, diz. Segundo ela, que trabalha com sapatos sob encomenda e sob medida, a única parada em vendas aconteceu em março, na primeira semana da pandemia, mas depois disso, as coisas voltaram ao normal e então começaram a crescer. Em julho e agosto, nos meses de frio, quando sempre há mais compra por causa da estação, a marca cresceu muito. A média mensal de aumento de vendas em 2020 foi de 21% em relação ao ano anterior. E em 2021 o crescimento médio mensal tem sido de 30% em relação a 2020. Só agora em março o crescimento foi de 46% em comparação com o ano passado. Ela alega que esse crescimento aconteceu porque muitas pessoas que nunca tinham comprado online viram que era possível e começaram a comprar com ela, que nunca abriu uma loja física. Fora o apelo dos modelos que já chegaram a aparecer em personagens de novelas da Globo e até na série “Mecanismos”, da Netflix. Para encomendar seu produto, o cliente precisa preencher um formulário no site da marca e detalhar o que quer ver fabricado. Ela faz sapatos para adultos e crianças e ainda possui colaboradores locais que pintam o calçado como uma obra de arte. “É muito legal ver o resultado final, a qualidade e a originalidade”, diz. Mas, prepare a carteira, usar algo exclusivo e durável tem um preço. O valor de ter algo bem feito é alto, mas justifica cada centavo.

VENDAS EM ALTA A artesã Elisa Marchi viu seus negócios crescerem durante a pandemia: consumidores ávidos (Crédito:Divulgação)