03/03/2023 - 9:30
Após desfilar nos pés de celebridades na Semana de Moda de Nova York, como Dorian Electra e Wisdom Kaye, a “big red boot” logo tomou os espaços para os quais parece ter nascido. “É um produto criado em sintonia com o momento das redes sociais”, diz Natália Bridi, do canal Entre Migas. Foi na plataforma de vídeos curtos que um senhor viralizou ao tentar retirar os sapatos gigantes. Inspirada nos calçados do Astro Boy, mangá japonês de Osamu Tezuka, de 1952, a “grande bota vermelha” mal foi lançada pelo coletivo de arte MSCHF e já está fora de estoque.
Ainda que os cosplayers reproduzam a estética dos desenhos animados há tempos, a inclusão do item na moda tem tom de novidade: “Não é algo que necessariamente vá ser absorvido pelo grande público, mas certamente faz barulho em um espaço concorrido e repetitivo”, continua Natália. O fenômeno tem mais relação com o poder viral da imagem do que com o clássico asiático e o produto em si: “É diferente de quando o visual de Matrix extrapolou as telas e virou tendência de estilo”.

De acordo com Marcio Banfi, styling e professor do curso de Moda da Faculdade Santa Marcelina, o sucesso instantâneo de peças como essa está ligado à moda lúdica, que aqui se sobrepõe à utilitária. “É juntar a brincadeira com quem quer brincar”, diz Victória Scherer, sócia da plataforma de aluguel “Não Tenho Roupa”, sobre o seleto grupo que recebeu os sapatos e aquele que se dispôs a pagar mais de R$ 1.820 por eles. A venda desenfreada não é o foco dos artistas.
Mas, lembrando o título de um grande hit da cantora Nancy Sinatra nos anos 1960, “essas botas são feitas para andar”? “Ela parece ser confortável, mas é larga dos lados. No entrepernas, deve bater um pé no outro”, fala Banfi, sobre os itens de borracha e EVA. Sua função, segundo ele, tem mais a ver com o “burburinho” que a aparência meio virtual e meio real causa entre fãs e haters. Dos pés do andróide super-herói para os de poderosos da moda e de fora dela, as “botinhas” comunicam desejos de criatividade e ousadia em um momento de questionamento sobre o belo. “É uma moda pontual, mas acho que alguns elementos refletem o que vai chegar às lojas de departamento depois”, diz Victória.