Um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta uma mudança radical na dieta dos brasileiros no futuro próximo. A pesquisa aponta que o feijão, um dos ingredientes mais populares da culinária brasileira, deixará de ser consumido regularmente em cerca de dois anos, com consequências negativas para a saúde dos brasileiros e para a própria cultura do País. Aqueles que não comem a leguminosa têm 10% de chance de ficar com sobrepeso e 20% de atingir a obesidade.

Entre os motivos para a redução do feijão estão o aumento dos ultraprocessados e a queda no consumo dos alimentos naturais. O feijão caiu mais de 50% nos últimos dezesseis anos, segundo o IBGE. A falta de tempo para cozinhá-lo também influencia a mudança de hábitos e a pesquisa alerta que, desde o último ano, as mulheres passaram a ingerir os grãos menos de cinco vezes por semana. Natural, dado que as longas jornadas de trabalho são cada vez mais comuns entre o público feminino. “Se a mulher foi para o mercado de trabalho, o homem precisa entrar na cozinha, para que haja uma divisão justa das tarefas não remuneradas”, diz a historiadora Adriana Salay.

As variações climáticas afetaram a produção e, assim, o valor do produto. O preço subiu mais de 28% em 2022, ainda de acordo com o IBGE. Outro fato que colaborou para isso foi o desmonte da política de armazenamento e abastecimento interno de alimentos, reduzida desde 2016. “É preciso tirar incentivos da indústria de ultraprocessados e colocar nos alimentos que são bons para o corpo e o campo”, diz Adriana. O Ministério da Saúde confirma que o consumo regular do alimento deve diminuir até 2025.

Tradição

Ao lado do arroz, o feijão forma a base do prato típico nacional ou, como citou o sociólogo Carlos Alberto Dória, no livro A Formação da Culinária Brasileira: Escritos Sobre a Cozinha Inzoneira, a dupla é “o próprio sistema culinário do país”. Tirá-lo da mesa está relacionado a perdas culturais e identitárias para o Brasil, que, de Norte a Sul, acostumou-se a comer o grão em sua diversidade, com tantas variedades, formas de preparo, acompanhamentos e temperos. O afastamento da tradição causará a perda de uma habilidade gastronômica que tem raízes históricas, como pontua Fernanda Serra Granado, pesquisadora da Faculdade de Medicina da UFMG. Fora os prejuízos à saúde, devido a seus atributos. “O feijão tem excelente perfil nutricional, com vitaminas C e do complexo B, exceto pela B12, fibras e ferro. Ele faz parte de uma combinação nutricionalmente saudável, para uma refeição balanceada”, conclui. “Espero que o feijão continue no nosso prato, não apenas no imaginário”, fala a historiadora.