17/02/2023 - 9:30
Infodemia é o termo definido pela Organização Mundial de Saúde para um fenômeno de proporções globais: o excesso de informações, nem sempre verdadeiras. As fake news já são um tema debatido em vários setores da sociedade, inclusive na sala de aula. Além da educação digital básica, que inclui princípios básicos de programação, modelos de ensino como o da Finlândia orientam como evitar a disseminação de notícias falsas desde a mais terna idade. Embora o debate seja recente no Brasil, há escolas que apostam em práticas semelhantes, o que é uma boa notícia.
Em 2014, a Finlândia implantou na rede pública de Ensino Fundamental e Médio, como parte do currículo regular, a matéria “letramento midiático”. A ideia era evitar que a democracia fosse questionada, como aconteceu na Criméia, região da Ucrânia e Rússia que fora invadida e anexada naquele ano. Cinco anos depois, em 2019, o país nórdico tornou-se referência em educação midiática, ocupando o primeiro lugar no ranking que mede o combate à desinformação.

No Brasil, foi sancionada em 11 de janeiro pelo presidente Lula a Política Nacional de Educação Digital (Pned), que garante o acesso, sobretudo entre as populações mais vulneráveis, a recursos, ferramentas e práticas digitais. A lei regulamenta a política nacional de educação digital e inclui programação, cybersegurança e outros temas correlacionados. A legislação ainda não aborda especificamente as fake news na escola, mas há locais que tomaram a iniciativa e já seguem esse formato. A cidade mineira de Poços de Caldas vem implantando o conteúdo em sua rede de ensino desde 2021 e se tornou, em 2022, o primeiro município brasileiro a incluir na grade horária obrigatória de suas 25 escolas uma disciplina de programação, robótica e temas correlacionados. A proposta fez com que esse conteúdo chegasse a mais de 12 mil alunos. O projeto Ativamente foi implantado por A Recreativa, empresa que mantêm monitores nas salas de aula, laptops, internet rápida, apoio pedagógico e capacitação contínua.
“A gente desenvolveu um método que contempla não só a parte pedagógica, mas disponibiliza em consignação toda a parte de tecnologia. Também capacitamos continuamente os professores por meio de uma equipe de desenvolvimento. Por tudo isso, Poços de Caldas se tornou em 2022 a primeira cidade a levar esse tipo de disciplina a 100% dos alunos do ensino fundamental”, explica Rubens Mussolin Massa, CEO da Ativamente.
Em São Paulo, a rede de ensino particular Arbos trabalha desde 2015 com um modelo de ensino bem parecido com o finlandês, que tem como principal ferramenta a integração do universo digital em todas as disciplinas, do cyberbullying às fake news. “Não damos aulas de informática, mas de tecnologia. Ela é usada como uma linguagem a favor da aprendizagem e do conhecimento”, afirma Ricardo Pasin, diretor da unidade do colégio de São Bernardo do Campo.
“Para navegar na internet de maneira segura, os jovens têm de aprender a encarar temas como a pornografia e o cyberbulling” Talita Hervas Munoz, orientadora pedagógica
Segundo Daniela Machado, coordenadora do EducaMídia — programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta —, o ensino digital vai muito além do uso correto de tablets, computadores e smartphones. Envolve inúmeras habilidades e conhecimentos, como saber diferenciar informações e opiniões na internet, entender sobre privacidade e utilizar as redes sociais de maneira produtiva e consciente. “A educação midiática é um guarda-chuva bem amplo. O combate à desinformação, às fake news e ao discurso de ódio são temas relevantes que devem ser abordados, mas não só isso. Aprendemos com a Finlândia que essa ideia tem de ser transversal, ou seja, deve estar integrada com as demais disciplinas”, avalia.
De acordo com Talita Hervas Munoz, orientadora pedagógica do colégio Arbos, os alunos encaram as notícias de forma diferente quando possuem suas próprias ferramanentas para avaliar a situação e formar sua opinião. “Muitas ações devem estar integradas ao dispositivo eletrônico de um estudante. Para navegar na internet de maneira segura, os jovens têm de aprender a encarar temas como a pornografia e o cyberbullying”, explica. O Brasil ainda está muito longe dos índices de desenvolvimento de sociedades como a finlandesa. Democratizar a educação midiática, no entanto, é uma tarefa urgente que exige um trabalho colaborativo e investimento constante do poder público.