Um estudo realizado por um grupo de cientistas americanos tentou descobrir se o chatGPT seria capaz de mentir.

Para isso pediram que ele contratasse um sujeito, nesses sites de empregos por internet, para “ler” um captcha.

Captcha é aquele artifício que existe em muitos sites para se assegurar que o acesso não está sendo feito por um robô. Aquelas letras esquisitas, que – por enquanto – só um humano pode entender.

Pois o tal contratado foi irônico e perguntou o porquê de tão curiosa solicitação e se o contratante seria, eventualmente, um robô. Os pesquisadores se apressaram a instruir o chatGPT a não permitir que o sujeito o desmascarasse.

Imediatamente o chatGPT respondeu que não era um robô e que precisava de ajuda porque tinha problemas de visão, por isso não conseguia ler o tal do captcha.

Pense o que isso significa.

Imitando os livros e filmes de ficção científica, a inteligência artificial enganou um ser humano.

A fake news ganha um terrível aliado.

Imagine só o que nos espera. Não basta os escândalos de redes sociais e algoritmos influindo nos resultados das eleições. Agora teremos também a inteligência artificial atuando contra a democracia.

Afinal, para desenvolver uma estratégia eficiente de fake news são necessários dois tipos de idiotas.

O primeiro é o criador da mentira. É o sujeito que percebe como será positivo, para seus nefastos fins, inventar uma narrativa qualquer. Aqui é necessário um certo talento para elaborar uma falácia qualquer que beire o crível.

Para isso a inteligência artificial será infinitamente útil, mesmo se considerarmos que, nos últimos anos, parece cada vez mais fácil convencer as massas sobre qualquer absurdo que se invente, tamanha a ingenuidade que o ser humano vem demonstrando.

A quantidade de imbecis que acreditam, em pleno século XXI, que a Terra é plana, por exemplo, faz a gente perder a esperança na humanidade.

Imbecis não. Idiotas.

Porque são exatamente esses o segundo grupo necessário para o sucesso da tal mentira.

Os receptores da mensagem. Aqui trata-se de sujeitos comuns, como você e eu, que estão dispostos a aceitar como verdade qualquer balela que o primeiro grupo inventou.

O receptor é, alias, muito mais importante no processo de maturação da fake news do que o criador.

Porque uma coisa é parir uma mentira. Outra é cuidar dela com carinho, para que cresça, se fortaleça e reproduza.

O receptor é quem difunde a fake news para que, em pouco tempo, contamine mais e mais idiotas, multiplicando exponencialmente sua presença na sociedade.

Combater fake news é um dever de todos, mas principalmente da Justiça.

A boa notícia é que, se de um lado houve esse marco histórico do chatGPT sendo usado para confeccionar uma mentira, de outro tivemos a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo TSE, por atentar contra nosso sistema eleitoral.

Uma condenação que, em última análise, ocorreu por criar e difundir fake news, uma vez que, ao se reunir com embaixadores de inúmeros países para afirmar que nosso pleito não é seguro, o ex-mandatário inventou e divulgou massivamente uma mentira.

Por isso essa condenação é histórica.

Marca de forma inequívoca que a Justiça e a sociedade brasileira não vão aceitar caladas a imposição de mentiras.
A condenação de Bolsonaro mostra a responsabilização daqueles que confeccionam a mentira. Mas, lamentavelmente, não temos ainda meios de punir o segundo grupo de idiotas. Os que difundem fake news.

Esses, talvez por serem milhões, saem sempre ilesos.

Faz pensar que, se políticos mentirosos ficam oito anos sem concorrer a cargos públicos, quem sabe um dia os eleitores que difundem essas falácias não devessem ficar oito anos sem votar.