O ex-guerrilheiro e ex-senador de 62 anos Gustavo Petro é o novo presidente da Colômbia — o primeiro de esquerda na história do país. Assumiu o poder no final da semana passada entre o pragmatismo e a literatura: “hoje começa a Colômbia do possível (…). Estamos aqui contra todos os prognósticos, contra uma história que dizia que nunca íamos governar (…)”, declarou o mandatário, em referência a uma passagem do clássico Cem Anos de Solidão, do escritor Gabriel García Márquez. Se Petro também governará na solidão dependerá somente dele. O tempo vem demonstrando que países que elegeram ex-integrantes de guerrilhas não foram felizes em seu futuro porque os eleitos não substituem o radical ideário da luta na selva por programas democráticos de governo — mais uma prova é que Petro, na segunda-feira 8, em seu primeiro dia útil no cargo, fez da caneta fuzil: enviou ao Congresso um projeto de reforma tributária “aumentando a carga fiscal sobre os colombianos mais ricos” e cortando drasticamente os benefícios fiscais às empresas. Garantiu (talvez essa seja a Colômbia do impossível, ao contrário do discurso de posse) que selará a paz com os guerrilheiros comunistas, renitentes e anacrônicos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

O real e o irreal

“Hoje começa a Colômbia do possível (…). Estamos aqui contra todos os prognósticos, contra uma história que dizia que nunca íamos governar (…) “ Trecho de Cem Anos De Solidão, de Gabriel García Márquez, citado na posse

EUA
Nada a comemorar, mister Biden

VICE-PRESIDENTE Senadora Kamala Harris: é claro que ela tinha de votar pelo governo (Crédito: Drew Angerer/Getty Images/AFP)

A aprovação pelo Senado norte-americano do pacote socioambiental e fiscal proposto pela Casa Branca está longe de sinalizar uma vitória do presidente Joe Biden. Primeiro: os US$ 437 bilhões que passaram são uma ínfima fração do que o presidente pretendia. Segundo: a votação estava empatada em cinquenta votos favoráveis e contrários, mostrando o Senado fielmente dividido entrem democratas e republicanos. Coube a Kamala Harris dar o voto vencedor – seria loucura se não o fizesse, em se tratando da vice-presente do país. Não é nada confortável, portanto, a situação de Biden a três meses das eleições legislativas. O projeto deverá ser votado na Câmara nessa sexta-feira 12. O que estará em jogo é a aprovação à gestão de Biden.

US$ 369 bilhões serão destinados a combater a crise ambiental e reduzir o preço de medicações com retenção de receita

INVESTIGAÇÃO
Os efeitos do FBI na casa de Donald Trump

LUXO E APOSTA DE RISCO A mansão de Trump na Flórida: qualquer deslize da Polícia Federal norte-americana vai respingar diretamente em Joe Biden (Crédito:GIORGIO VIERA)
Divulgação

Na semana passada, nos EUA, fanáticos conservadores que são adeptos do autoritário Donald Trump chegaram
ao ponto de ebulição. Motivo: agentes do FBI, com a finalidade de busca e apreensão, ingressaram na mansão do ex-presidente, em Mar-a-Lago, na Flórida. Ele não estava na residência. Trump foi o mais arbitrário, o mais insano, o mais tosco e o mais brutal mandatário que o país já teve. O problema da presença da polícia em sua casa é que, até a quinta-feira 11, o FBI não havia se manifestado oficialmente sobre o motivo da operação. Sabe-se que Trump carregou consigo, quando deixou a Casa Branca, caixas com documentos oficiais e sigilosos que, segundo a lei, teriam de ser depositados no Arquivo Nacional. Segundo advogados do ex-presidente, o FBI teria apreendido agora quinze dessas caixas. O que é preciso, no entanto, é que o Departamento de Justiça apresente claramente as razões da busca. Até a democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara que deseja ver Trump preso, manifestou-se nesse sentido: “ninguém está acima da lei (…). Mas para uma visita como essa da polícia é preciso um mandado e, para se ter o mandado, é necessária uma justificativa”. Christina Bobb, uma das advogadas de Trump que estava na casa, disse à imprensa que um policial comentara que a operação devia-se a documentos confidenciais. Combater os atos criminosos de Trump é fundamental, mas não pode o FBI cometer deslizes. O menor erro servirá de munição para os conservadores atacarem Joe Biden.

POPULISMO O ex-presidente Donald Trump e manifestações: nas ruas ele fala, na Justiça ele se cala (Crédito:ED JONES)