Não existe bolsonarista mais ferrenho que o Tuta Credêncio.

Filho de tradicional família da zona sul carioca, Credêncio conheceu Bolsonaro ainda vereador e se apaixonou pelo jeito simples e humano, do político.

De lá para cá, nunca mais quis saber de outro.

Quem conhece o Credêncio diz que ele é amigo íntimo da família, mas que prefere não divulgar, para não acharem que está se aproveitando disso.

No boteco Boa Praça, na Dias Ferreira, Credêncio voltou a se encontrar com sua turma.

Apesar de serem todos também bolsonaristas, Credêncio logo percebeu que estavam apreensivos com o presidente.
– Calma gente. O presidente é um homem de família. A mulher e os filhos estão sempre ajudando. Com todo mundo apoiando ele vira alvo mais fácil, coitado.

– Mas Credêncio, são acusações demais. Tem as rachadinhas, as fake news, os depósitos do Queiroz na conta da Michelle. Tá ficando difícil defender. E ele nunca explica nada! — afirma o Saboya, publicitário.

– Não explica porque são acusações levianas.

– Levianas? Peraí. Você tem explicações para tudo? — pergunta Casimiro, empreendedor.

– Claro que tenho.

Os amigos se animam.

– Podem perguntar que eu respondo.

Castro, financista, pega as cadeiras e coloca em volta de uma mesa.

– Traz mais uma aqui pro Credêncio! — o Casimiro grita para Romário, o garçom.

Saboya, já um pouco mais animado, faz a primeira pergunta:

– Explica as rachadinhas, que essa é a com que mais me enchem e eu nunca sei o que dizer. — Ele dá um gole na cerveja, sinceramente interessado.

– Então, você já viu algum funcionário reclamar das rachadinhas? – Todos fazem que não com a cabeça.

– Então. Elas realmente aconteceram.

– Então… Mas aí é crime…

– Calma pô! Aconteceram, mas com o consentimento de todos os funcionários. Era uma grana que eles juntavam para doar a uma entidade de auxílio a policiais aposentados, caceta! Cada um colaborava de vontade própria e o Queiroz depositava no nome dele, porque nem o Flávio, que eu conheço de perto e é um cara do bem, nem a família, queriam aparecer. O que uma mão faz a outra não precisa saber! Eles são muito reservados na filantropia, entendem?

Os amigos concordam aliviados. Um problema a menos.

Por isso precisavam do Credêncio, todos concordam.

O Casimiro continua:

– E as fake news?

– Seguinte: O presidente decidiu não gastar dinheiro em propaganda, gente. Anunciar no WhatsApp é muito mais barato. Então ele juntou lá uns meninos que entendem do riscado. Claro que sempre tem um ou outro excesso, afinal são jovens. Por isso ele colocou o Eduardo para organizar a bagunça. Mas é muito melhor e mais barato do que torrar dinheiro na televisão, vocês não concordam? Que presidente fez isso antes?

Os amigos fazem um brinde.

Mas o Romário, o garçom comunista, grita lá do balcão, enquanto lava os copos:

– Explica os depósitos do Queiroz para a Michelle. Essa eu quero ver.

Credêncio vacila na resposta.

– Ah, não sei se devo. É uma intimidade da primeira-dama…

– Vai Credêncio! Estamos entre amigos. A gente precisa saber para poder defender o presidente!

Credêncio concorda. Respira fundo.

– Tá bom… Os 89 mil, olha lá heim gente, não vão espalhar que vocês me queimam. Os 89 mil foram… Foram pra Jequiti.

– Jequiti?! Como assim?

– É. Jequiti. A Michelle é consultora da Jequiti, pronto falei. O Queiroz comprou para a mulher dele e pagou a primeira-dama, só isso.

Os amigos se entreolham felizes. Saboya completa:

– Boa! Por isso o Fábio Faria, né?

Credêncio nem responde.

Vitorioso, pede o café e saca uma Nhá Benta.

Da Kopenhagen.