23/09/2022 - 9:30
A campanha de 2022 demonstra em tempo real os riscos do radicalismo político. Em um ambiente tomado pela polarização e por conspirações eleitorais, as ruas tornaram-se palco de ameaças verbais, agressões físicas e assassinatos. Para extremistas, simples divergências políticas viraram justificativa para a barbárie. Não à toa, mais da metade dos brasileiros diz ter medo de serem vítimas de violência ao assumirem suas escolhas por candidatos ou partidos. É esse o clima que permeia o País às vésperas do primeiro turno das eleições, conhecido até então como a “festa da democracia”. Com o temor alastrado, o PT prepara orientações para a militância e estuda o reforço da segurança de Lula. O Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral, emaranhados pelos ataques de Jair Bolsonaro, ampliaram as medidas de proteção em relação a 2018.
A preocupação está alinhada aos últimos acontecimentos no país. Somente nesta semana dois casos chamaram atenção. Um pesquisador do Datafolha foi agredido com chutes e socos por um bolsonarista em São Paulo — o instituto, que tem apontado os maiores índices de vantagem de Lula na corrida presidencial, sofre críticas diárias do clã Bolsonaro e chegou a ser alvo de protestos na mobilização do Sete de Setembro. E o empresário Luiz Henrique Crestani divulgou nas redes um vídeo em que pratica tiro ao alvo com a mira numa imagem do ex-presidente. Antes disso, neste mês, houve episódios, com cunho eleitoral, de tiros em um culto, confrontos em comícios e assassinato de um petista morto a facadas no MT.
Cerca de 11,5 mil policiais serão escalados para um grande esquema de segurança em Brasília. Eles reforçarão a proteção ao TSE presidido por Alexandre de Moraes

Um dos coordenadores da campanha de Lula no DF, Geraldo Magela, disse que em julho, durante uma visita de Lula a Brasília, o partido chegou a pedir que apoiadores não andassem com camisas vermelhas até o local do ato popular. “Vemos sinais de temor em todos os lugares. O número de carros adesivados que manifestam claramente seu voto a candidatos de qualquer partido, por exemplo, diminuiu muito em relação a outras campanhas. Isso é resultado do clima pesado. Temos falado em reuniões pequenas que precisamos vencer o medo, mas sem, jamais, entrar em discussões na rua”, recomendou.
A proteção do próprio Lula, claro, também é tema de alerta e, por isso, o número de agentes da PF e de seguranças privados será ampliado no dia da votação. A programação do petista para o dia não está fechada. O ex-presidente votará em São Bernardo do Campo, no ABC, e acompanhará a apuração em casa ou no comitê de campanha. Um ato na Avenida Paulista depois da divulgação do resultado é cogitado, mas há ponderações justamente sobre os riscos.
Do lado de Bolsonaro, aliados afirmam que não há grandes preocupações com o clima de dois de outubro. O presidente votará na Vila Militar, na zona norte do Rio, onde a segurança já é, por óbvio, reforçada. Além disso, os agentes que o acompanham monitorarão as áreas interna e externa do setor. De acordo com a campanha, o capitão não decidiu onde acompanhará a apuração, mas a tendência é de que permaneça em seu berço eleitoral.
Esquema em Brasília
No Distrito Federal, cerca de 11,5 mil profissionais, entre policiais civis, militares, bombeiros e servidores do Departamento de Trânsito, serão escalados para trabalhar, o que representa uma equipe quatro vezes maior do que o efetivo de 2018. O número não leva em conta os policiais judiciais, que reforçarão o time responsável por proteger o TSE e o STF. Além disso, boa parte do esquema de segurança do Sete de Setembro tende a ser reciclado. A Esplanada dos Ministérios pode ser fechada, numa medida de proteção de prédios públicos.
O planejamento conta, ainda, com barreiras antidrone em torno dos tribunais. No TSE o receio é maior, porque os ministros da Corte estarão de plantão no dia, assim como equipes jornalísticas para transmissão das informações. O paradeiro dos magistrados do STF, por outro lado, não será informado, mas cada um deles conta com um grupo de agentes da Polícia Judicial treinados para adoção de protocolos em diversos cenários possíveis. Com o mega-esquema, a concepção geral é de que não há risco de invasão de grupos aos tribunais. Ainda assim, haverá atenção aos “lobos solitários”, que podem tentar furar bloqueios e chegar perto dos edifícios-sede. A Polícia Militar deixará grupos da tropa de choque ao lado dos tribunais. O mutirão de iniciativas visa a evitar a ampliação do clima de “guerra” depois das eleições, sobretudo se Lula vencer no primeiro turno. De qualquer forma, o caos não pode continuar.