O universo do cinema é feito de sons e imagens, mas há ocasiões em que as cenas incorporam um elemento a mais: o espírito de aventura. O 12º Festival de Filmes Outdoor Rocky Spirit, evento gratuito inspirado pela temática da vida ao ar livre, a valoziração da diversidade e pelo respeito ao meio ambiente, exibirá 38 produções em duas edições, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na capital paulista, acontece nos dias 3 e 4 de setembro, no parque Villa-Lobos. Os cariocas poderão curtir as sessões no feriado de 7 de setembro em três locais diferentes: no Posto 10, na praia de Ipanema, na Vila Olímpica da Gamboa e na Vila Olímpica Nilton Santos, na Ilha do Governador.

Filmes de aventura são tão antigos quanto a própria história do cinema. Em 1902, o norte-americano Frank Ormiston-Smith tornou-se popular com o curta-metragem The Ascent of Mont Blanc, produção em que o alpinista liderou uma expedição de sete homens saindo de Chamonix, na França, rumo ao pico da montanha mais alta dos Alpes. Nos anos 1920, os filmes de montanha feitos na Alemanha – os famosos bergfilms – tornaram-se um gênero popular em toda a Europa e fizeram de seu principal nome, o cineasta Arnold Fanck, um grande astro.

GAROTAS CARIOCAS Skate para todos: produção conta a história da escola Guanabara (Crédito:Divulgação)

Os filmakers radicais vão muito além das montanhas, mas foi uma produção correlata que levou o gênero a outro patamar dentro da indústria cinematográfica. Free Solo, dirigido pelo casal Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin, venceu o Oscar de Melhor Documentário em 2019. O longa acompanha a façanha do norte-americano Alex Honnold, que escalou os 910 metros de El Capitan, paredão vertical de granito localizado no Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia, EUA, sem nenhum equipamento de segurança.

Volta ao presencial

A edição 2022 do Rocky Spirit também é marcada com a volta ao formato presencial, prejudicado pela pandemia nos últimos dois anos. No período, o festival funcionou de forma reduzida e online, com pequenas sessões presenciais. Para a programação desse ano, a curadoria selecionou obras marcadas pelas locações em cenários de sonho e o foco nos esportes radicais, incluindo bike, surf, alpinismo, skate, corrida e esportes de neve, entre outros temas. “A cultura outdoor é extremamente rica e trabalhamos para selecionar os melhores filmes dentro de uma gama amplificada de assuntos. Paulistas e cariocas vão adorar a experiência única de assistir a belas produções debaixo do céu”, afirma Andrea Estevam, diretora do festival, que avaliou cerca de 300 filmes antes de anunciar os escolhidos. “Além da volta ao convívio presencial, o destaque desse ano são os filmes protagonizados por mulheres. Tenho certeza de que o público vai se identificar com a força e a sensibilidade de cada uma delas. São obras de qualidade, que farão a plateia rir, chorar, se emocionar e, acima de tudo, se inspirar com tantas histórias incríveis de mulheres que arrasam no outdoor”.

Entre as 38 produções selecionadas, seis são nacionais: A Travessia do Amolar, Split Riders, Skimboard Nazaré, Tubos & Bacalhau, Dreams e Walking on Clouds. Em Skimboard Nazaré, o campeão mundial Lucas Fink enfrenta o maior desafio da sua vida: surfar as ondas gigantes da praia de Nazaré em um skimboard, prancha leve e pequena, geralmente utilizada para deslizar sobre uma fina camada de água à beira-mar. Outro tipo de prancha, de snowboard, é usada para descer as montanhas da Patagônia e cortar o mar de Florianópolis, em Split Riders.

Também há espaço para a diversidade e a conscientização. A imigrante brasileira e escaladora profissional Maiza Lima é a estrela da produção norte-americana What’s in a Name. O filme confronta o racismo e a misoginia nos EUA, enquanto ela desenvolve sua própria área de escalada esportiva em meio a uma zona rural.

Há muitos destaques entre as produções internacionais: em Breaking Trail, Emily Ford é a primeira mulher negra LGBTQIAP+ a completar a Trilha da Era do Gelo, de 1.930 km, no auge do inverno, em um trenó puxado por um cão; Arc of Aleutia traz três surfistas em um dos destinos mais remotos do mundo: as Ilhas Aleutas, no Alasca. Dois escaladores descobrem a importância da amizade enquanto completam o circuito de 17 cumes alpinos, em Cuddle. Apesar de trazerem cenas incríveis em paisagens deslumbrantes, são as histórias desses personagens que farão o público refletir sobre o mundo em que vivemos – e o que é preciso fazer para melhorá-lo.

GRATUITO Rocky Spirit Rio 2022: na praia de Ipanema, Vila Olímpica da Gamboa e Vila Olímpica Nilton Santos, na Ilha do Governador (Crédito:Divulgação)

Rio de Janeiro, capital mundial da diversão ao ar livre

Poucas cidades são mais adequadas a um festival ao ar livre quanto o Rio de Janeiro. Não só pela beleza ao redor da tela de cinema, mas porque ela é uma das capitais mundiais da diversão outdoor. Com patrocínio da Prefeitura do Rio, por meio da Secretaria Municipal de Esportes, o Rocky Spirit ampliou os locais de exibição (de um para três pontos) e promoverá uma ação inédita voltada para as crianças.

Vídeos do festival serão distribuídos à rede municipal de ensino para divulgar o respeito à natureza e o estilo de vida saudável. “Promover o acesso ao cinema gratuitamente, aliando o esporte à cultura, é sensacional. Espero que todos aproveitem. Será um sucesso”, diz o secretário Municipal de Esportes, Francisco Bandeira. “O evento tem tudo a ver com o Rio. Imagine assistir a um filme sobre uma natureza exuberante, e daí você olha em volta e vê o Cristo Redentor iluminado. Isso é a cara do público carioca.”