07/07/2023 - 8:00
O desenvolvimento econômico e o sucesso empresarial não podem prescindir do bem-estar social e da melhor distribuição de renda. Essa foi a principal conclusão do 22º Fórum Empresarial – Lide, realizado nos dias 28 e 29 de junho, no Rio de Janeiro, com a participação de aproximadamente 250 empresários e a nata da política nacional, como sete governadores (RJ, GO, MS, MT, RN, AC e AM), além de inúmeros prefeitos e líderes de classe.
O debate passou também pela necessidade de o País aprovar as indispensáveis reformas estruturais, como a tributária, mas sem recuar nas mudanças já feitas, como no Marco do Saneamento, nas leis trabalhistas e nas privatizações, como a da Eletrobrás.
Mas como não poderia deixar de ser, num momento em que as energias renováveis tomam conta das discussões no mundo, por causa do aquecimento global, o encontro reservou boa parte do tempo das conversas para falar sobre a sustentabilidade ambiental.
Um dos exemplos que mais estiveram na mesa de palestras foi como manter em pé as árvores da floresta amazônica e, ao mesmo tempo, garantir emprego e renda para 30 milhões de amazônidas, que hoje se configuram como os mais pobres do País.
Turismo abre portas
Uma das alternativas para gerar mais renda é o turismo como fomentador de serviços que propiciem mais empregos, não só na região amazônica, mas também no Rio de Janeiro.
O governador Cláudio Castro explicou que após o estado ter intensificado iniciativas que atacaram os problemas da falta de credibilidade do setor, a economia fluminense deu um grande salto em seu crescimento.
Somente no primeiro semestre deste ano, o Rio apresentou um aumento de 5,2% do PIB, o maior nível desde o primeiro semestre de 2015. “Isso não aconteceu de forma isolada. Os melhores resultados do turismo no Rio são consequência também da pacificação política do estado, do governador com a Assembléia, com o prefeito, com o Ministério Público e assim por diante. Todos voltaram a trabalhar juntos com a perspectiva do entendimento, o que permite que o estado cresça”, disse Castro.
Para ele, a segurança pública ainda não deixou de ser um grande desafio para o Rio. “Temos graves problemas financeiros, o que nos leva a pagar o segundo pior salário para policiais”, disse o governador, que aproveitou o encontro para enumerar uma série de medidas que vem adotando para melhorar a segurança do estado.
“Investimos R$ 2 bilhões em segurança pública para comprar, inclusive, 21 mil câmeras corporais para os nossos soldados, além de drones e câmaras para reconhecimento facial nas viaturas.”
Esse é, segundo Castro, um dos grandes problemas do pacto federativo. “O Rio é responsável por 85% da produção do petróleo no Brasil e de 75% da extração do gás consumido no País, mas não temos esse reconhecimento quando ocorre a divisão das receitas.”
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, vai na mesma linha de raciocínio. Ele acha que o grande desafio do turismo é melhorar a imagem do Brasil no exterior, que hoje está muito ruim.
“Falta ao Brasil uma política de divulgação de seu potencial turístico”, disse o prefeito. Segundo ele, o Rio precisa de mais atenção.
“Somos a porta de entrada dos turistas do mundo, mas temos o Aeroporto do Galeão com baixo movimento. Não é uma questão de disputar com Guarulhos (SP), mas o Galeão precisa de maiores investimentos.”
Eduardo Paes, prefeito do Rio
O prefeito carioca considera que os elevados preços das passagens também afugentam turistas internos, enquanto que a exigência de visto para turistas de países como os EUA atrapalha a vinda de viajantes internacionais para o Rio. “Os americanos são nossos principais visitantes. Não faz sentido exigirmos os vistos para esses turistas.”
Já o ex-ministro do Turismo no governo Temer e ex-secretário de Turismo de São Paulo no governo Doria, Vinicius Lummertz, explicou que o turismo é uma questão política. “A Cidade do México é mais violenta do que o Rio, mas seu turismo está crescendo mais do que o da nossa Cidade Maravilhosa”, disse ele, informando que Istambul fatura anualmente US$ 75 bilhões com o turismo, enquanto que o Rio, em torno de US$ 6 bilhões.
No debate sobre uma “nova visão econômica do Brasil e seus reflexos”, o CEO do BTG Pactual, Roberto Sallouti, mostrou que a nova era econômica brasileira deve ser “a obsessão pela produtividade, com o incentivo ao empreendedorismo e uma agenda voltada para um projeto nacional de educação que valorize os professores mais eficientes’’.
Nessa mesma linha, o economista Roberto Giannetti da Fonseca lembrou que no período em que foi presidente da Cotia Trading (1985) a discussão no mundo era sobre o direcionamento dos maiores investimentos em educação.
“A disputa era quem sairia na frente, se a Coreia, a China ou o Brasil. Muitos apostavam no Brasil porque o País tinha riquezas inesgotáveis, mas hoje, 40 anos depois, vimos que o Brasil perdeu essa corrida, tudo porque a Coreia, por exemplo, aplicou recursos em massa na educação”, disse o economista, para quem o Brasil deveria investir mais em produtividade e competitividade.
“Precisamos de uma Embrapa, que incrementou nossa agropecuária, para o setor industrial.”
Roberto Giannetti da Fonseca, economista
Sallouti destacou ainda que a queda na taxa de juros também será importante para recuperar a capacidade de investimento da economia brasileira. Ele prevê que, com o novo arcabouço fiscal, a inflação deve cair. Estima que dentro de 6 a 9 meses, o Brasil pode ter juros reais de 9%.

A força do agro
Mas foi no debate sobre “a nova realidade do agro brasileiro” que o pseudo-conflito entre produtores rurais e defensores do meio ambiente permeou as discussões. Com a presença de quatro governadores da região do Centro-Oeste (Ronaldo Caiado, de Goiás; Mauro Mendes, do Mato Grosso; Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul; e Gladson Cameli, do Acre), a área em que a agropecuária brasileira mais cresce, o debate sobre a necessidade de se aumentar a produção agrícola versus a preservação ambiental foi sintetizada pelo governador Cameli.
“A Amazônia tem 30 milhões de habitantes que precisam ter maiores oportunidades de sobrevivência. Precisamos gerar empregos na floresta sem desmatar nada. Já temos tecnologia para produzir riquezas na mata sem danificar o meio ambiente. Tanto que 80% das nossas florestas estão totalmente preservadas”, assegurou o governador do Acre.
O governador Ronaldo Caiado mostrou que o segredo do sucesso da agropecuária do centro-oeste, especialmente do Cerrado brasileiro, está na tecnologia. “A nossa produtividade é uma das maiores do mundo. Enquanto o Brasil deve crescer 2,9% este ano, o Cerrado crescerá 6,2%”, disse ele, explicando que o quadro só não é melhor em função dos problemas de logística. “A região deve receber R$ 12 bilhões para recuperar a malha rodoviária de 5 mil quilômetros de estradas”, completou.
O governador Mauro Mendes (MT) disse que, apesar de o estado estar a 2 mil quilômetros dos portos, a região deve produzir 100 milhões de toneladas de grãos, tornando-se a quinta maior exportadora de alimentos do mundo.
Graças a esse desempenho espetacular do agronegócio, o governador Eduardo Riedel (MS) destacou que entre as dez cidades que mais cresceram de acordo com o último levantamento do Censo estão Cuiabá, Campo Grande e Goiânia, capitais dos estados que tiveram crescimento puxado pelo desenvolvimento agrícola.
Tanto é verdade que o agro caminha de braços dados com o meio ambiente que Mario Mantovani, diretor da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente e fundador da SOS Mata Atlântica, atesta que a soja que sai do Brasil leva o selo de proteção ambiental.
O governador Wilson Lima (Amazonas) adiantou que seu estado pode ser altamente prejudicado caso o governo insista em cortar os R$ 450 bilhões de incentivos fiscais na Reforma Tributária. “Se isso acontecer, vamos perder R$ 50 bilhões em incentivos, o que representa 500 mil empregos”, pontuou Lima.

Energia limpa
Outro setor em que o Brasil pode levar vantagem em relação ao resto do mundo é o das alternativas energéticas.
O debate envolvendo economistas e dirigentes das principais companhias energéticas em operação no Brasil, de capital estrangeiro, revelou que o potencial brasileiro vai da energia solar, eólica e de biocombustíveis até a energia nuclear.
Defensor da energia nuclear, o deputado Julio Lopes (PP-RJ) mostrou que o Brasil é um dos três países do mundo que dominam toda a tecnologia nuclear. “A energia nuclear brasileira só é cara graças à ineficiência das nossas autoridades”, sintetizou.
O vice-presidente da Shell do Brasil, Flávio Rodrigues, diz não entender porque o Ibama não autoriza a Petrobras, em sociedade com a Shell, a explorar petróleo na Foz do Amazonas, quando outras empresas já extraem óleo na Guiana Francesa.
Para ele, a exploração de óleo pode mudar o potencial econômico da região. “Já temos projetos para explorar óleo até no litoral do Maranhão”, justificou.
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, destacou que o estado está recebendo investimentos de R$ 150 bilhões para a construção de usinas eólicas, o que deve tornar o estado autossuficiente na produção de energia elétrica.
No debate sobre o combate à pobreza e investimentos em Educação e Saúde, o médico Dimas Covas, ex-presidente do Butantan, lamentou que durante o governo Doria o instituto que dirigia tinha 6 milhões de doses de vacina contra a Covid estocadas ainda em dezembro, mas o governo Bolsonaro não autorizou que os imunizantes fossem aplicados.
“Fomos autorizados pela Anvisa a começar a vacinação somente em janeiro. Como morriam 4.500 pessoas por dia, se tivéssemos começado a aplicar antes, muitas vidas teriam sido salvas.”
Dimas Covas, ex-presidente do Butantan
Edu Lyra, fundador da ONG Gerando Falcões, mostrou que os pobres não querem ser incluídos apenas com a transferência de renda. “Eles querem a emancipação social. Por isso, a inclusão pela cidadania é o nosso desafio”, disse ele, explicando que nos últimos 14 anos o número de favelas subiu de 7 mil para 14 mil, com um grande aumento da desigualdade social, que precisa acabar.
Ao avaliar os resultados do fórum, o ex-governador João Doria, organizador do evento, disse que durante os dois dias de debates ficou claro que o Brasil só retomará seu crescimento de forma ordenada se os setores públicos e privados estiverem juntos na conjunção em torno do desenvolvimento econômico e social.
“Diria que dois pontos aqui ficaram em maior evidência. A necessidade da segurança jurídica para que investidores sintam que os seus contratos serão obedecidos, e, por outro lado, a questão do cumprimento das normas ESG, com a necessidade de obediência à descarbonização e o respeito ambiental.”
Ex-governador João Doria, organizador do Lide
A carta do Lide
Após dois dias de debates no 22º Fórum Empresarial, no Rio de Janeiro, o Lide divulgou documento intitulado “Que País desejamos?”
“Grandes desafios se apresentam ao Brasil na nova era. Depois de uma década de crescimento econômico medíocre, do aumento na desigualdade social e dos índices alarmantes de miséria e desemprego, é chegada a hora de uma virada de chave que passa não apenas pela aprovação das reformas estruturais, como também pelo não retrocesso no campo de pautas já conquistadas, como no caso do Marco do Saneamento, da Lei Trabalhista e das privatizações.
Para almejar um lugar de destaque no plano mundial, como protagonista no desenvolvimento global, o Brasil precisa reforçar sua vocação no campo das energias renováveis, da sustentabilidade ambiental e do combate às atividades ilegais nas florestas e ao trabalho escravo.
Não é possível mais aceitar as desigualdades regionais, que punem cidadãos com a falta de oportunidades. É preciso empreender investimentos vitais na educação, saúde, infraestrutura e bem-estar para diluir tais diferenças, que deixem para trás os velhos estigmas divisionistas.
Da mesma maneira, é mister que o Brasil supere de vez a polarização política dos últimos tempos incitando o ódio, a cizânia e a violência desmedida que corrompem os sentimentos de cidadania e civilidade.
O combate à inflação, o resgate de superávits primários decorrentes de um esforço pelo equilíbrio fiscal, e a redução de custos, juros e encargos que comprometem a produção e os trabalhadores estão na raiz das saídas pretendidas pelos signatários desse Manifesto, que reiteram o apoio incondicional à construção de um Brasil socialmente mais justo, politicamente mais equilibrado e economicamente mais viável para todos.”