Ser nômade digital, como é conhecido o profissional que precisa somente de uma conexão com a internet para desenvolver o seu trabalho em qualquer lugar, parece um sonho distante, mas pode se tornar realidade inclusive no exterior. A modalidade era comum nas áreas de tecnologia e de marketing digital, mas chegou a novos setores depois da pandemia. Esse é o caso da jornalista Yasmine Holanda Fiorini, de 32 anos, que escolheu morar por alguns meses em Buenos Aires, Argentina, com sua namorada, a designer Gabriela Fantini, trabalhando para uma empresa no Brasil. Com a desvalorização do peso, vive dias de puro requinte. “Tinha essa ideia de vir para cá muito fixa, mas quando fiquei sabendo do esquema da Western Union ou do câmbio blue, fiquei super feliz!”, diz a brasileira.

A jornalista utiliza um tipo de conta para transformar o real em pesos argentinos. O valor é convertido por uma cotação paralela do dólar americano. “Tem sido bem vantajoso ganhar em real e gastar em pesos. Já estou sofrendo um pouco porque sei que não vou poder manter o mesmo padrão das saídas quando voltar para o Brasil”, declara Yasmini.

NÔMADE DIGITAL Yasmine trabalha 100% online em sua típica varanda portenha em Buenos Aires (Crédito:Divulgação)

Com a crise econômica na Argentina — a inflação pode chegar a 70% este ano —, brasileiros podem usufruir de uma vida mais confortável se souberem administrar seus ganhos e conhecer os macetes portenhos para não perder o dinheiro na conversão. O país é conhecido por suas inúmeras livrarias e seus cafés em estilo europeu e tem atraído mais brasileiros nos últimos anos. O número de imigrantes do Brasil que vivem na Argentina, segundo o último censo, supera 48 mil pessoas.

O arquiteto de software Ricardo Mouro também escolheu a Argentina para viver. Em agosto de 2019 mudou-se com sua família para Rosário, terra de Che Guevara e Lionel Messi. “A Argentina tem um custo de vida inferior ao Brasil em algumas coisas, como aluguel, serviços domésticos (babá, ajudante de limpeza) e alimentação em geral”, explica.

De acordo com levantamentos da Numbeo, empresa que compila dados estatísticos de várias regiões do mundo, Buenos Aires é cerca de 40% mais barata que São Paulo. Além disso, quando se compara cidades como Rosário e Campinas (que são semelhantes), há valores até 52% mais baixos quando o assunto é custo de vida. “A principal vantagem é que ganhar um salário dentro padrão brasileiro e viver aqui te dá um pouco mais de poder de compra. Mas nem tudo é mais barato. Importados, eletrodomésticos e móveis podem ser mais caros”, alerta.

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O arquiteto de software também concorda que o câmbio tem favorecido muito aos brasileiros em terras portenhas, mas com ressalvas. “Esse cenário favorece quem ganha em reais, mas você tem que aprender a trabalhar com o câmbio paralelo, porque pelo oficial dá na mesma ou fica mais caro”, frisa.

Somando os custos básicos, como aluguel, alimentação e lazer, o gasto está muito mais em conta. O real hoje equivale a 32,76 pesos argentinos, no câmbio oficial — mas a cotação pode variar, pois o sistema de câmbio argentino tem pelo menos 13 tipos de cotações. “A princípio é muito estranho isso de paralelo, porque quando a gente vem da estabilidade econômica do Brasil, chega sem malícia. Com o tempo, você se acostuma a ter uma vida financeira como dos argentinos”, explica Ricardo. O plano dele é continuar com sua empresa em Campinas, interior de São Paulo, e morar na Argentina. “Vivi com a minha esposa no Brasil de 2013 a 2019. Casei em 2014 na Argentina. Em 2016, minha filha nasceu aqui e, em 2019, viemos definitivamente.”