Se a fama surgiu como descobridora de vulcões em luas do Sistema Solar, o trabalho de Rosaly Lopes, pesquisadora sênior do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, vai muito além disso. Seu trabalho já abrange mais de quatro décadas desvendando mistérios das profundezas de paisagens planetárias. E ajuda a detectar vestígios de vida em satélites de planetas como os gigantes gasosos Júpiter e Saturno. O ritmo de missões interplanetárias envolve décadas até se falar em resultados — que foram muitos, e impressionantes, desde que deixou Ipanema, no Rio de Janeiro, para entrar na história.

“Procuramos sinais de vida fora do nosso planeta” Rosaly Lopes, pesquisadora sênior da NASA (Crédito:Divulgação)

Em 2006, o recorde no Guinness veio com a descoberta de 71 vulcões ativos catalogados na lua Io, de Júpiter. Mas essa é apenas uma linha entre os mais de 140 estudos científicos e livros publicados — um trabalho reconhecido por medalhas e prêmios que colecionou como astrônoma, geóloga planetária e vulcanóloga. A brasileira integra grupos responsáveis por explorações no Sistema Solar desde o convite da NASA, em 1989. “São várias as missões. Preparamos mais uma para o início de 2030. Estamos à procura de sinais de vida fora do nosso planeta”, diz Rosaly, que nesta semana participa de assembleia da Sociedade Americana de Astronomia, em Atenas, na Grécia.

Em sua primeira missão, a Galileu, as descobertas se voltaram para a lua Io, de Júpiter. Por seus vulcões, “atrasados” em relação aos da Terra, se tem ideia da formação deles por aqui, há bilhões de anos. Com a Cassini-Huygens, de 2005, foi possível o pouso de uma sonda na lua Titã, de Saturno, para mapeamento geológico da superfície ­— uma crosta de gelo com espessuras de 80 quilômetros. “Encontramos paisagens similares às da Terra, mares e lagos com metano líquido, montanhas e dunas com material orgânico. Abaixo, existem oceanos de metano, presente também na chuva”, diz. Por essas similaridades, observa, é possível dizer que pode haver, ou ter havido, vida em Titã, ainda que bacteriana.

Outras luas fazem parte das explorações de Rosaly. “A Europa, de Júpiter, foi uma grande descoberta, com oceanos de água líquida e criovulcões [que expelem gelo]. Será muito bem estudada porque reúne condições propícias à vida. A Enceladus, de Saturno, tem algo como gêiseres e fica envolvida por uma nuvem. Se houver vida por lá, é provável que esteja nos oceanos”, diz. Já foram coletadas amostras de terra da Lua e de meteoritos e também de Marte, que recebe a missão Perseverance.