Ogoverno Lula passou no seu primeiro grande teste internacional na área econômica. A participação de ministros brasileiros no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, conseguiu fazer chegar a investidores estrangeiros a mensagem de que o Brasil inicia um novo ciclo, cujas principais marcas deverão ser a responsabilidade fiscal, a preocupação ambiental e o fortalecimento da democracia. Representado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, o governo prometeu à comunidade internacional estabilidade e previsibilidade na economia e, no meio ambiente, a retomada do compromisso com a sustentabilidade, fatores que haviam sido negligenciados pelo ex-presidente Bolsonaro, o que levou o País à perda de credibilidade externa.

Haddad se comprometeu a apresentar, até abril, a nova âncora fiscal que vai substituir o teto de gastos (que limita o aumento das despesas da União) e reforçou que pretende zerar em dois anos o déficit da gestão federal. Dispôs-se a debater o novo arcabouço fiscal inclusive com organismos como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Também destacou a importância da Reforma Tributária, que deverá começar a ser discutida ainda no primeiro semestre. Prometeu aos investidores estrangeiros que pretende também realizar, no segundo semestre, uma reforma no Imposto de Renda. “Queremos votar uma reforma sobre a renda para desonerar o imposto das camadas mais pobres e onerar quem hoje não paga imposto”, disse Haddad. “Precisamos reequilibrar o sistema tributário para melhorar a distribuição de renda no País”, assegurou.

“O discurso de Haddad em Davos é música para os ouvidos dos investidores”, avaliou o economista e ex-ministro Mailson da Nóbrega. “Ele tem procurado transmitir uma mensagem de responsabilidade fiscal”, disse. Além dos compromissos assumidos por Haddad, Mailson vê de forma “bastante positiva” a sinalização do ministro de que o governo Lula vai aceitar a colaboração do FMI na definição do arcabouço fiscal. “Isso vindo de um petista é uma grande novidade, já que a esquerda sempre demonizou o FMI”, destacou o economista, para quem, “Haddad tem uma visão mais moderna, que leva em conta realidades inescapáveis.”

PRIVATIZAÇÕES O governador Tarcísio de Freitas e Ilan Goldfajn, do BID, falam sobre projetos de parcerias privadas no Fórum de Davos (Crédito:Divulgação)

Desafio

Embora avalie de forma satisfatória o desempenho de Haddad em Davos, Mailson destaca que o atual ministro da Fazenda tem enormes desafios pela frente. “Ele terá muita dificuldade para implementar uma meta de gastos, pois, antes de mais nada, ele precisará da concordância do presidente, que já disse que o teto de gastos é ‘estupidez’.” O Brasil só não foi melhor em Davos exatamente pela ausência de Lula, que optou por ficar no Brasil para enfrentar a crise política gerada pelos atos terroristas de 8 de janeiro e também por ele ter optado iniciar sua pauta de viagens internacionais por visitas à Argentina e ao Uruguai.

Arnd Wiegmann

À frente da pasta do Meio Ambiente, Marina Silva destacou, em Davos, que o Brasil retoma o protagonismo na agenda ambiental global e volta a atrair investimentos estrangeiros para a preservação das florestas. Segundo ela, o Fundo Amazônia deve receber em breve aportes financeiros de fundações privadas ligadas ao ator Leonardo DiCaprio e ao magnata Jeff Bezos, dono da Amazon. Centro das atenções no evento, Marina ficou à vontade para cobrar das nações desenvolvidas auxílio financeiro para a proteção do meio ambiente. Como parte do Acordo de Paris, os países mais ricos se comprometeram a repassar US$ 100 bilhões por ano para ajudar os mais pobres, mas o compromisso não vem sendo cumprido.

Referência em mudanças climáticas e aquecimento global, o climatologista Carlos Nobre, que estava em Davos, contou que a ministra vem sendo muito aplaudida em suas manifestações sobre a importância da proteção dos biomas brasileiros e do combate à emergência climática. “Marina é respeitada internacionalmente por sua atuação em prol do meio ambiente, tem um grande capital político. O mundo demonstrou entusiasmo com os compromissos assumidos por ela”, disse. A participação dos representantes do governo Lula em Davos mostrou que a imagem do País no exterior voltará a melhorar.” Segundo Maílson, as políticas ambientais desastrosas do governo anterior acabariam em algum momento refletindo na economia brasileira, como por exemplo a partir de restrições a produtos da agropecuária nacional.

À frente do estado mais rico da federação, o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, também marcou presença em Davos. Em busca de investimentos, participou de várias reuniões com autoridades internacionais e empresários, como foi o caso do presidente do BID, Ilan Goldfajn. “Estamos detectando um grande interesse no nosso programa de investimentos com a iniciativa privada”, afirmou. Defensor das privatizações, o governador anunciou, durante sua participação no evento, que até o fim de 2024 pretende concluir a privatização da Sabesp.