Na quarta-feira (16), a Unidade Básica de Saúde da Vila Romana, em São Paulo, amanheceu com uma fila de pessoas em busca da vacina contra a Covid-19. Por volta de 10h, eram quinze: a maioria para colocar a carteira de vacinação em dia, mas a procura pela quinta dose também foi registrada. Em São Paulo, ela é oferecida para imunossuprimidos com 18 anos ou mais que tenham tomado a quarta dose há pelo menos quatro meses. A cidade é uma das 12 do País que oferecem essa imunização para o grupo prioritário. Um alívio diante das ocorrências da doença que voltam a crescer. Na terça-feira (15), o Brasil reportou 24 mortes provocadas pelo vírus. Foram 2.582 diagnósticos em 24 horas, completando 34.963.985 de casos desde o início da pandemia. Segundo o consórcio de veículos de imprensa, a média móvel de contaminações na última semana foi de 9.128, um aumento de 71% em relação a duas semanas atrás.

Na UBS Vila Romana, o aposentado Nathan Akermann, de 80 anos, tratou de se proteger com a quinta dose aproveitando a oferta na capital. Munido da autorização de seu médico, o paciente oncológico comemorou o reforço. “Essa história de não tomar vacina é lamentável”, observou. Em duas horas, ao menos, três imunossuprimidos buscaram o posto para o mesmo fim. Uma prova de que o desejo de imunização sequencial existe. No local, quem se atualizou com a quarta dose,com certo atraso, declarou já estar à espera da quinta em larga escala.

“Estamos em uma segunda pandemia. Por isso, as doses de reforço reduzem a letalidade e internações” Rodrigo Farnetano, médico infectologista (Crédito:Divulgação)

No entanto, a possibilidade dessa etapa adicional é restrita. Além de São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas, Pernambuco, Espírito Santo, Paraná, Rio Grande do Norte e Acre expandiram a imunização. As capitais Belo Horizonte, Salvador, Maceió e Aracaju engrossam os avanços para imunossuprimidos. O Ministério da Saúde do governo Bolsonaro, no entanto, ainda não apresenta qualquer planejamento futuro. Atualmente, o órgão indica apenas a segunda dose de reforço (quarta dose) para pessoas a partir de 40 anos.

VACINA JÁ Nathan Akermann, de 80 anos, tomou a quinta dose em SP; reforço disponível para imunossuprimidos (Crédito:Ivan Pacheco/IstoE)

Com o salto no número de casos, a Sociedade Brasileira de Infectologia defende o incremento da vacinação diante do cenário causado pela subarivante ômicron BQ.1 e outras variantes. Para a organização, é preciso garantir a aquisição de doses suficientes para todas as crianças de seis meses a cinco anos, independente da presença de comorbidades. Também é necessária a volta constante de medidas de prevenção não farmacológicas, como uso de máscaras e distanciamento social. Outro ponto crucial é a aprovação e acesso às vacinas bivalentes de segunda geração, que estão atualmente em análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, sem prazo para liberração. A Agência alerta a população sem o esquema completo. “Manter-se atualizado com as recomendações de vacinas é uma maneira importante de uma pessoa se proteger no contexto atual de aumento de casos”, adverte.

Alerta no amazonas

Há uma semana, a Rede Genômica Fiocruz identificou uma nova variante da ômicron no Amazonas, a BE.9, responsável pelo crescimento em números de infectados na região. As incidências de Covid-19 no estado estavam em ascensão desde a metade de outubro e subiram de uma média móvel de cerca de 230 casos por semana para mil. Em 6 de novembro, chegou a 1.258. “O que ocorre no estado tende a se repetir em outras regiões e pode estar acontecendo novamente”, diz Tiago Gräf, pesquisador da fundação. O virologista Felipe Naveca, da Fiocruz Amazônia, explica que a sublinhagem encontrada surpreende por “aumentar a capacidade do vírus de se ligar na célula do hospedeiro e fugir da resposta imune”. Tais características, indicam que a BE.9 é “mais transmissível”.

A comunidade médica é enfática a respeito da necessidade do reforço adicional diante das mutações. “Nós estamos em uma segunda pandemia. Tivemos a primeira, causada pela cepa original de Wuhan, na China, que se desdobrou. E veio a ômicron, com habilidade de mutação e transmissão maior que as outras”, analisa Rodrigo Farnetano, infectologista e coordenador do Serviço de Infectologia da Rede Mater Dei. “A quinta dose é necessária, pois ela faz o nível dos anticorpos subir. Ela eleva o nível de proteção, de anticorpos e de memória imunológica. Os reforços reduzem a letalidade e as internações”. O especialista defende uma estratégia de imunização recorrente com versões atualizadas de vacinas. “A Câmara Técnica Assessora em Imunizações mantém as discussões referentes às alterações e ampliações do esquema vacinal para novos grupos, de acordo com as evidências científicas e o cenário epidemiológico, que são acompanhados diariamente”, informa a Anvisa.