A era de homens usando unicamente mochilas ou pastas fica cada vez mais no passado. As bolsas masculinas serão tendência em 2023, um avanço para grifes que passam a olhar com atenção para a mudança de comportamento. O acessório já usado por jovens descolados passou a ter novos adeptos e lugar de protagonista nos principais desfiles. Prova disso, foi a Semana de Moda Masculina de Milão, que terminou na terça-feira (17). De um modo geral, conforto e versatilidade foram as prioridades nas criações de marcas de peso, como Prada e Gucci. Entre as roupas para o outono e inverno, as bolsas se destacaram. Uma delas, aliás, viralizou: uma peça em formato de baguete – sim, o pão francês – foi o chamariz da Fendi. A ideia, no caso, trouxe a percepção de que o objeto também permite diversão.

“O homem tinha essa necessidade de justificar o uso do acessório. Hoje, entendemos que usam para reforçar um estilo ou estética. É evolução”
Arlindo Grund, consultor de imagem e moda (Crédito:Divulgação)

Não é de hoje que bolsas masculinas são apostas de estilistas atentos. Em 2022, nos eventos que ditaram a moda para este ano, o modelo para homens em versão máxi (grande) estava lá nos desfiles de Paris e Milão. Em novembro, a São Paulo Fashion Week provocou o olhar do público com unidades em formatos menores. O homem acostumado com mochilas, pochetes, pastas ou bolsas no estilo carteiro pode se render a outras opções de praticidade. Uma coisa não se pode negar: elas são funcionais. Não à toa são acessórios.

Foi por esse motivo que o relações públicas Fabio Bouças, de 44 anos, descobriu as bolsas. “Eu trabalhava na área artística e percebia que a peça era presente. O pessoal era fashionista e antenado”, conta. Ele, literalmente, uniu o útil ao agradável: conseguiu organização e uma forma de expressar sua personalidade. Hoje, ele tem uma dúzia das mais variadas que usa conforme o look do dia. “Quando comprei minha primeira bolsa, juntei dinheiro por um ano. Foi uma Louis Vuitton, que na época custava R$ 12 mil”, relembra. “Mas se eu gosto, eu compro. Não precisa ser de grife. Tenho uma da C&A que paguei R$ 90.”

Bouças entrega que já sentiu olhares preconceituosos nas ruas ao ser visto com seu acessório. “O público masculino ainda tem essa de ficar encarando. Mas não ligo para a opinião dos outros”, diz. No entanto, ele aponta que as mudanças estão no caminho, com marcas unicamente para eles ou empresas tradicionais que criam linhas para o nicho. A principal transformação, porém, é outra. “Fui para Israel, Itália e Alemanha. Lá os homens usam bolsa e não tem essa que é coisa de homem ou de mulher, é unissex”, narra. “As grifes estão sensíveis a esse comportamento moderno.”

ITÁLIA O empresário Pedro Mafra foi ver a Semana de Moda de Milão: estilo e praticidade (Crédito:Divulgação)

O empresário Pedro Mafra, 31, conferiu de perto a Semana de Moda de Milão. Como usuário do acessório e criador da empresa Concierge Fashion, ele analisa o movimento: “Hoje, a geração Z, que é extremamente ousada e mente aberta para a moda, acaba refletindo e influenciando as gerações mais velhas a quebrar essa barreira e apostar em bolsas modernas”.

O mercado evolui juntamente com a atitude do consumidor. É o que expõe o consultor de imagem e moda Arlindo Grund. “O homem tinha essa necessidade de justificar o uso do acessório. Hoje a gente entende que eles usam simplesmente para reforçar uma questão de estilo ou de estética. Isso é uma evolução”, considera. Um exemplo é o uso das microbolsas – algumas são tão miúdas que nelas mal cabe um celular. “Esses acessórios pequenos são indicadores de estilo. A começar pela originalidade de usar uma bolsa que não tem função utilitária nem de carregar nada. É um movimento que acontece há algum tempo e é muito legal observar que os homens estão abrindo a cabeça em relação a isso.”

Para Grund, entretanto, falta para a bolsa invadir de vez a mentalidade e o guarda-roupa dos colegas. “O consumidor masculino, infelizmente, ainda é muito careta. Quando falamos de jovens, a gente começa a ter uma percepção maior e diferenciada do que a moda pode oferecer”, observa.

Aos que se interessaram pelo acessório da vez, o consultor sugere uma adaptação: “Tem homem que não fica à vontade usando a peça. Então, comece com uma pequena. A moda, enquanto democrática e possibilidades que oferece hoje, é maior do que poderíamos imaginar”.

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