22/12/2022 - 9:30
Na música – Ludmilla
Ludmilla é conhecida por seu talento, mas também pela forte postura contra o racismo. No desfile do carnaval de 2016, uma mulher comentou que o cabelo da cantora “parecia Bombril”. Ludmilla entrou na Justiça e ganhou. No mesmo ano, processou um homem que lhe atacou pelas redes sociais. Um apresentador da Record TV fez um comentário pejorativo sobre ela – foi demitido na hora e a emissora ainda teve de lhe pedir desculpas. Dessa forma, Ludmilla tem inibido comportamentos racistas. Em 2019, foi a primeira negra a ser escolhida como cantora do ano no canal Multishow em 25 anos de premiação. Em 2023, ela almeja vitórias ainda maiores: “Espero um País com mais respeito e mais letramento racial. Que coisas triviais não precisem mais ser explicadas e que mais pessoas pretas estejam no poder – como é o caso da nossa maravilhosa Margareth Menezes, no Ministério da Cultura. Tenho certeza de que ela vai lutar ainda mais por igualdade racial, coisa que ela já trabalha há tempos”.
As artistas brasileiras deram show em 2022: com sucesso de público, conquistas financeiras e reconhecimento internacional, diversos nomes brilharam nos palcos do Brasil e do exterior. É difícil, no entanto, negar que o ano foi espetacular para a carioca Ludmilla, de 27 anos, nascida em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Ela viveu uma sequência ininterrupta de triunfos: em janeiro, lançou o quarto disco de estúdio, Numanice#2, que lhe renderia poucos meses depois a premiação de um Grammy Latino de Melhor Álbum de Pagode. Em março, lançou o EP Back to Be, que celebrou seus dez anos de carreira. Para comemorar a data, convidou o famoso rapper Akon para uma gravação e voltou a usar o pseudônimo MC Beyoncé, homenagem à cantora norte-americana que lhe serviu de inspiração no início de sua trajetória.
Três meses depois lançou mais uma edição do projeto Lud Sessions, EP em parceria com a cantora Luísa Sonza. Em agosto, foi a vez de lançar a versão ao vivo do premiado Numanice#2, gravado na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, diante de mais de trinta mil pessoas. Detalhe: os ingressos se esgotaram no mesmo dia em que foram colocados à venda. A apresentação contou a presença de Alcione, que participou das faixas Faz uma Loucura por Mim e Você me Vira a Cabeça.
Em entrevista à ISTOÉ, a artista confirma: esse foi o período mais importante de sua vida. “Tive grandes marcos nesses dez anos, mas parece que 2022 consolidou toda a minha trajetória até aqui. Transitei por todos os projetos que tenho e as repercussões foram muito positivas”, afirmou. Em 2020, Ludmilla já havia entrado para a história como a primeira cantora negra da América Latina a atingir mais de um bilhão de streams no Spotify. Como isso afetou sua carreira? “Eu me senti possível, sabe? Foi o início de um grande processo de crescimento pessoal e profissional. Todas as experiências me fizeram evoluir, claro, mas a partir desta marca veio uma esteira de acontecimentos profissionais que fizeram toda a diferença para a minha vida.”
Durante a Copa do Mundo, Ludmilla se envolveu em uma polêmica no país muçulmano, conhecido pelas rígidas regras em relação à diversidade. Assumidamente bissexual, ela foi criticada por aceitar um convite para se apresentar ao vivo, mesmo sabendo que o Catar é acusado de desrespeito aos direitos humanos e à comunidade LGBTQIA+. “Fui porque penso que a minha presença poderia ter alguma relevância na hora de levantar a discussão sobre o assunto. E também porque virar a costas e não ir não resolveria nada. É importante furar a bolha e falar para além da comunidade”, afirmou. Para completar o cenário, ela foi acompanhada pela esposa, a dançarina Brunna Gonçalves. “Carrego a bandeira na minha vivência ao mostrar o meu dia a dia com Brunna. Entendo que costumes religiosos devem ser protegidos, mas não dá para aceitar que, em 2022, direitos fundamentais da vida humana sejam cerceados por Estado nenhum. Por isso fui, cantei e vou ajudar instituições LGBTQA+ no Brasil ao longo de 2023. Faço o que está ao meu alcance, o que me sinto apta, sendo sempre muito fiel à minha verdade.”
Por ser presença constante nas colunas de celebridades e redes sociais, Ludmilla deu visibilidade à luta pelo direito à diversidade sexual. Mas ela concorda que ainda falta muito para o respeito ser universal. “Estamos no caminho e já avançamos um pouco. Quando eu nasci, pessoas do mesmo sexo ainda não tinham o casamento legalizado. Hoje sou casada, posso ser feliz com a minha esposa e mostrar isso para o mundo. Acho que o que mais falta é as pessoas pararem com preconceito.”
Para 2023, a cantora cita a volta do Ministério da Cultura como um ponto positivo que incentivará as atividades do setor, principalmente para os que têm menos acesso: “A cultura é o que faz pensar, é o que nos faz viajar sem precisar sair do lugar. Ela provoca questionamentos, desperta a inteligência.” Ludmilla aproveita para deixar uma mensagem para quem quer entrar 2023 “numanice”, como diz sua canção: “Faça o possível para ir em busca da sua felicidade. Não é fácil, mas acho que é o maior compromisso que devemos ter com nós mesmos.”