FURURO “Soulmates” e “The One”: relações baseadas no DNA (Crédito:Divulgação)

O que é o amor? Um sentimento que nasce da emoção pura ou uma afinidade que pode ser explicada pela biologia? A resposta para essa definição ainda está distante, mas a biotecnologia já nos coloca diante de outra questão: será possível encontrar um par perfeito analisando apenas o DNA? Ou o amor é algo que vem de maneira intuitiva e que apenas o convívio é capaz de suscitar? A discussão chegou ao streaming – com abordagens opostas.

O amor tradicional, à moda antiga, é o tema da série documental “My Love – Seis Histórias de Amor Verdadeiro”. A estreia da Netflix retrata o cotidiano de casais que estão juntos há mais de 40 anos. Em busca do segredo para relações tão duradouras, o coreano Jin Moyoung convidou cineastas de diversos países para contar seis casos emocionantes. De uma fazenda na Índia à favela no Rio de Janeiro, cada capítulo mostra como o significado do amor oscila entre as culturas. Dirigido por Carolina Sá, o episódio sobre o Brasil conta a história de Jurema e Nicinha, duas mulheres que vivem juntas há 43 anos na favela da Rocinha. As outras histórias se passam na Índia, Japão, Coreia, Espanha e EUA.

“Somos um produto dos genes. Nossos gostos vêm dos hormônios e proteínas que produzimos” João Bosco Pesquero, pesquisador da Unifesp (Crédito:Divulgação)

Se a vida real mostra o presente a partir de passados compartilhados, a ficção olha para o futuro. “The One” (Netflix), baseado no best-seller de John Marrs, conta o caso de uma empresa que descobre “pares-perfeitos”: as pessoas cadastram seus DNAs e o algoritmo encontra a cara-metade correspondente. Criada por Howeard Overman e estrelada por Hannah Ware, a série tem toques de thriller, uma vez que a tal companhia foi fundada a partir de um crime. O interessante, porém, é mesmo a discussão sobre os relacionamentos – o que nos leva a “Soulmates”, da Amazon. Com formato diferente – seis enredos independentes, sem ligação entre os personagens –, a série foi escrita por Brett Goldstein e William Bridges, criador de “Black Mirror”. A apresentacão da tese futurista em cenários diferentes permite uma identificação maior com o público – muita gente consegue “se colocar” na situação.
O professor João Bosco Pesquero, coordenador do centro de pesquisa e diagnóstico molecular de doenças genéticas do departamento de Biofísica da Unifesp, acredita que basear o sucesso de relacionamentos amorosos na biologia pode se tornar real no futuro: “Não acredito na tese de que ‘os opostos se atraem’. Nos relacionamentos, são os iguais que ficam juntos.” Para Pesquero, as preferências pessoais têm relação direta com a parte genética: “Somos um produto dos nossos genes. Nossos gostos vêm dos hormônios e proteínas que produzimos. Por que uns odeiam vinho e outras amam? Graças à genética.” Segundo o professor, ela influenciará todas as áreas da atividade humana no futuro. “Temos mais de 20 mil genes no corpo. Todas as nossas relações são multigênicas, ou seja, dependem da ligação entre diversos genes. São elas que definem o nosso comportamento, e isso vai determinar se agradamos ou não ao outro.”

Busca pela felicidade

Pesquero afirma que o tema ainda é um tabu, mas que será quebrado em breve porque a tecnologia avança rápido.
“O projeto que sequenciou o genoma humano, no início dos anos 2000, custou US$ 2,7 bilhões. Hoje sai por US$ 1 mil.” Ele não acredita, porém, no conceito de “par perfeito”, ou seja, uma única pessoa para cada um. “Indivíduos têm perfis parecidos, mas ainda assim são diferentes. Cada um terá de analisar as características para decidir o que é importante”, diz. “Às vezes encontramos a pessoa ‘errada’ e ficamos juntos por diversos motivos. Mas e se pudéssemos nos relacionar com chance maior de ‘dar certo’? Há uma discussão ética, mas sou a favor dessa busca. O objetivo de todo ser humano é a felicidade. Se a genética puder ser uma ferramenta para ajudar a encontrá-la, então vale a pena tentar.”

A fórmula do amor em quadrinhos

Divulgação

A sueca Liv Strömquist tem um talento único para transformar questões profundas em histórias em quadrinhos. Ela já havia feito isso em “A Origem do Mundo” (2014), ao discutir o poder do corpo feminino. Agora, ela quer dissecar o amor. “A Rosa Mais Vermelha Desabrocha” aponta as razões para a falta de paixão nas relações modernas e abusa de referências filosóficas. Apesar da linguagem divertida, é para adultos. Com exemplos que vão de Beyoncé a Kierkegaard, é perfeito para quem quer entender “o amor nos tempos do capitalismo tardio” – justamente o subtítulo da obra.