Burrice, estupidez e ignorância, embora muitas vezes usados como sinônimos , são conceitos diferentes. Ignorância é ter desconhecimento sobre algum assunto. Burrice é ter esse conhecimento, mas não conseguir empregá-lo quando necessário. E estupidez é fazer a coisa errada, sabendo o que está fazendo, mas executar o ato como afronta, como agressão. O espetáculo de boçalidade perpetrado pelos bolsonaristas radicais em Brasília consegue contemplar as três categorias.

A horda chegou à cidade recrutada por convocação atraente na internet. Transporte em ônibus confortáveis, comida de graça, lugar para acampar durante vigília e, eis o grande lance, o desafio aventureiro de invadir Planalto, Congresso e STF para acampar nesses prédios até que o Exército os libertasse no suposto triunfo da ideia de revisar a eleição presidencial. Por revisar, entenda-se “anular”. Aí entra a burrice, porque a maioria da turma provavelmente sabia que isso seria ilegal, mas eles se sentiam em uma realidade paralela na qual isso seria apenas uma traquinagem. Mas é crime, e dos grandes.

Deixando um pouco de lado a conivência nefasta das forças de segurança do DF, veio então a invasão. A ação injetou carga de adrenalina e insanidade à massa, que revelou toda a sua estupidez. Se quebramos uma porta ou uma janela para entrar, porque não quebrar mais alguma coisa? Se quebramos algumas coisas, por que não quebrar tudo? E, se alguns itens parecerem muito valiosos, por que não deixar de quebrar alguns para simplesmente roubá-los? Uma progressão de violência e maldade.

E, no fim, a ignorância cobra seu preço. Quando os primeiros detidos começaram a chegar na sede da polícia, no início da noite de domingo, eles perguntaram aos agentes qual o valor da fiança que pagariam para ir embora. Então foram informados que seriam processados por crime de terrorismo, que é inafiançável. E logo descobriram que a pena para tal crime no Brasil pode chegar a 30 anos de prisão.

Se quebramos uma porta para entrar, por que não quebrar mais alguma coisa? Se quebramos algumas coisas, por que não quebrar tudo?

O desespero foi tomando conta de todos. Por incrível que pareça, pessoas que invadiram prédios públicos e destruíram patrimônio da sociedade brasileira achavam que iriam pagar uma multa e poderiam sair para uma pizza no domingo à noite.

Foram vítimas da própria ignorância. E, diga-se, uma ignorância que só se acentuou na detenção das pessoas que estavam acampadas na frente dos quartéis, na segunda-feira. Deixados com celulares em seu poder, muitos mandaram mensagens de dentro da área em que estavam confinados, mensagens de incentivo ao prosseguimento dos protestos e da baderna. Ou seja, produziram provas contra eles mesmos.