06/05/2022 - 9:30

Por muitos anos a Disney evitou entrar nas grandes polêmicas de seu tempo, preferindo a política de “agradar a todos”, sem tomar grandes decisões em nenhuma causa. Porém, com a crescente polarização política nos Estados Unidos, ficar em cima do muro deixou de ser uma opção. Pressionada por seus funcionários e a opinião pública, a Disney decidiu – mesmo tendo doado dinheiro de campanha para alguns políticos conservadores – ser contrária a criação de uma lei estadual que proíbe o ensino e qualquer forma de discussão sobre orientação sexual e identidade de gênero no ensino fundamental das escolas do estado da Flórida.
Como forma de retaliação a essa manifestação política, o governador repúblicano Ron DeSantis – um político que quer ser uma espécie de novo Donald Trump – revogou um acordo de 55 anos que dava à Disney um status fiscal especial e permitia o autogoverno de seu gigantesco complexo de pouco mais de cem quilômetros quadrados. Implementada em 1967, a designação especial dava ao parque temático o poder de tomar suas próprias decisões, como um “pequeno país” dentro da Flórida. Especialistas estimam que ao longo dos anos a empresa economizou milhões de dólares em taxas e impostos, o que teria possibilitado a Disney ser do tamanho que é hoje.

Vigilância moral
A perda dessa designação significa uma mudança gigantesca não só para a empresa, mas também para o estado. A Disney, que é a maior empregadora privada da Flórida, com 80 mil funcionários, terá que pagar mais impostos, talvez até o dobro do que paga atualmente: no ano passado foram US$ 870 milhões destinados aos cofres públicos. Já ao governo caberá estabelecer e disponibilizar diversos serviços básicos no local, como coleta de lixo, tratamento de esgoto e transporte público.
O gasto real para ambas as partes ainda é incerto, mas aparentemente ninguém poderá cantar uma vitória real. Enquanto DeSantis se sente vingado moralmente, a Disney, que ainda não se pronunciou oficialmente sobre a decisão, poderá parar de investir no crescimento dos parques. Os moradores da região, principalmente do condado de Reedy Creek, também deverão sentir um aumento nos próprios impostos. Economistas estimam que o gasto com toda essa infraestrutura – até então administrada pela Disney – possa chegar à soma de US$ 1 bilhão. Mas afinal, por que os legisladores decidiram tomar uma medida tão severa em relação à gigante do entretenimento?
A Disney já vinha sendo criticada pelo teor de seus filmes. Princesas guerreiras e sem um namorado não eram bem vistas. A inclusão de personagens marginalizados e de várias etnias também era percebida com ironia por parte do eleitorado conservador norte-americano, que acusa a empresa de se render “ao politicamente correto”. Apesar de parecer que havia escolhido “um lado”, o dos liberais, funcionários da Pixar, também da Disney, acusavam o alto escalão da companhia de boicotar personagens LGBTQIA+ e também de financiar campanhas eleitorais de políticos conservadores, que inclusive apoiam o projeto de lei que ganhou o apelido de “Não diga Gay”. Com a crescente insatisfação dos funcionários, Bob Chapek, o atual CEO da Disney, precisou se pronunciar: afirmou que a posição da empresa era totalmente contrária à lei, a que chamou de equivocada. Apesar de estadual, a lei precisa ser aprovada no senado norte-americano. Qual será, afinal, o preço da liberdade de expressão?
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