25/11/2016 - 18:00
Década de 1980
Brasil/Política 1983
Em cima do palco, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Leonel Brizola, Fernando Henrique Cardoso, Lula e outros políticos, artistas e intelectuais revezavam-se ao microfone. Embaixo, uma multidão aplaudia cada palavra e cada gesto que bradava por democracia. Era o movimento Diretas Já, que começou a se espalhar pelo País em 1983 e, em suas maiores manifestações, reuniu 1,5 milhão de pessoas na Candelária, no Rio de Janeiro, e 1 milhão no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. A mais simbólica de todas, no entanto, aconteceu na Praça da Sé, em 25 de janeiro de 1984, quando 300 mil pessoas carregando faixas e camisetas nas quais se lia “Eu quero votar para presidente” apareceram espontaneamente, num movimento amplo pela retomada pela democracia.

Fonte de inspiração
“Essas manifestações tiveram um impacto enorme nas gerações futuras”, afirma Camilo Vannuchi, 37 anos, membro da Comissão da Memória e Verdade da prefeitura de São Paulo. “Sou da geração de 1992, que promoveu o impeachment de [Fernando] Collor. As Diretas Já foram nossa fonte de inspiração, já que lá o Brasil aprendeu como ocupar ruas e praças na hora de se manifestar”. Cinco de seus familiares, entre eles seu pai, foram presos e torturados pelo regime militar. Seu tio, Alexandre Vannuchi, foi morto.
Nas Diretas Já, estava em jogo a votação da emenda constitucional Dante de Oliveira, que restaurava o direito à eleição direta, suspenso desde que o regime militar assumiu o poder, em março de 1964. No dia da votação, em março de 1984, exatos 20 anos depois, uma manobra tirou da Câmara 112 deputados. Apesar de mais de 80% da população clamar pelas eleições diretas, a emenda foi rejeitada. “Já naquela época era possível perceber como o Congresso anda apartado dos desejos da sociedade”, afirma Vannuchi, que guarda uma foto do comício da Praça da Sé. Ele tinha 4 anos.“O povo foi traído nas Diretas Já, mas o desgaste do governo foi tão grande que viabilizou a eleição de Tancredo logo na sequência”, afirma.
Com medo da repressão pelo regime militar, alguns meios de comunicação, especialmente concessionários de TV, noticiaram a manifestação da Diretas Já na Sé como comemorações pelo aniversário de São Paulo. “Hoje, graças às redes sociais, à internet e às mídias alternativas, essa manipulação é mais difícil”, diz ele. Na ocasião, ISTOÉ estampou em sua capa uma foto da Praça da Sé ocupada pela multidão, repetindo três vezes a palavra Diretas.
