31/03/2023 - 9:30
A carreira internacional de Pedro Franco começou oficialmente há 23 anos, quando o jovem designer estreou no Salão do Móvel de Milão, na Itália. Em 2013, sua empresa, A Lot Of Brasil, foi a primeira companhia nacional a participar do evento. Agora, Franco volta à capital mundial do design com a coleção Ancestralidade, mobiliário que combina a inspiração nos povos originários brasileiros e nas manifestações artísticas urbanas. A 61ª edição da mostra acontece de 18 a 23 de abril.
A presença no exterior permitiu sua expansão para outros mercados, mas é a cultura local que ainda o fascina, pois é ela que alimenta seus projetos. “Sempre criei olhando para as minhas raízes. No começo eu pensava em traduzir a brasilidade em produtos, mas hoje entendo que, para representar o Brasil, tenho de apresentar o quadro completo. O design vira uma plataforma para a capitalização de pensamentos”, afirma. Para a produção das cadeiras, poltronas, mesas e modelos de tapetes, Franco buscou inspiração na filosofia. “É fundamental para o criativo conhecer um pouco da psiquê. É preciso entender a relação entre as pessoas”, diz o criador. O designer combina elementos que vão dos conceitos do psicólogo Carl Jung aos desenhos indígenas, passando pelas referências aos grafismos urbanos. É uma mescla entre a autenticidade e a marginalização da linguagem. Um de seus ídolos atualmente é o ambientalista Ailton Krenak, autor da frase “O futuro é ancestral”. “Esse trabalho tem a ver com arte rupestre, o homem que escrevia nas paredes das cavernas e usava a expressão para demonstrar sua existência.”
“Eu não saberia ser tão criativo na Suécia. É essa incrível diversidade do Brasil que me traz inspiração” Pedro Franco, designer
Franco acredita que as peças inspiradas em grupos marginalizados pela sociedade representam um ato de resistência e resiliência: “Quando finalizei a coleção percebi que ela havia se tornado fruto dos contatos que tive com o pichador Bruno Rodrigues e com o líder indígena Mayawari, da etnia Mehinako, por exemplo. Depois de vivermos tempos tão duros, apresentar um trabalho que valoriza essas minorias tem uma relevância enorme.”


Sofisticação
Por meio de suas obras, Franco pretende promover a mensagem de que o Brasil é plural: “Esse sentido do belo tem de ser mais filosófico e precisa passar por uma ressignificação. Enfrentamos a poluição do planeta, uma maçante produção industrial, e o consumo que valoriza o descartável”. O designer ainda alerta para os riscos da homogeneização das expressões humanas, cuja maior ameaça, segundo ele, é a substituição da humanidade pela máquina – perigo representado pelo avanço da inteligência artificial. Em 2022, o quadro vencedor da competição de belas-artes da Feira Estadual do Colorado, nos EUA, foi uma imagem criada por computador: “Se a obra gerada artificialmente pode ganhar concursos, nossa interpretação sobre o que é arte está errada.” A escolha pelas cores preta e prata, bem como o uso de materiais como inox e aço carbono, vai ao encontro da busca por uma estética mais pura e simbólica: “Leonardo Da Vinci dizia que a simplicidade é o último grau da sofisticação. Nada me deixa mais satisfeito que seguir esse conceito”. Suas cadeiras e demais mobiliários foram construídos manualmente, por mestres de ofício. “Acho esse paradoxo muito bacana, constatar que o futuro e o passado se encontram”, afirma. O uso das formas despidas de alegorias corrobora para as diferentes interpretações entre usuários e espectadores, seja nas casas, nas feiras de design ou até mesmo nos museus: “A melhor forma de criar algo sustentável é manter o vínculo com as pessoas. Sou romântico e utópico, mas acredito que o design é uma ferramenta que pode mudar o mundo.”