17/03/2023 - 9:30
Nas últimas décadas, o Brasil ficou conhecido em Portugal como um polo exportador de cultura. Ao fazer o caminho inverso dos antigos colonizadores, desembarcamos do outro lado do Atlântico com novelas de sucesso, cantoras pop e artistas da MPB. De tempos em tempos, porém, essa maré também volta, e nós é que redescobrimos as melodias que remetem às nossas origens. Foi assim na década de 1970, com os populares refrões de Roberto Leal, em 1990, com as delicadas harmonias vocais do grupo Madredeus, ou no início dos anos 2000, quando Mariza nos fez retomar o gosto pelo fado. Esse fenômeno se repete agora, mais diverso e moderno: por meio de uma gama mais ampla de gêneros, os brasileiros têm se rendido à nova geração de estrelas portuguesas.

Vencedora do popular Festival da Canção, em Lisboa, a cantora MARO começou a chamar a atenção do Brasil quando se apresentou aqui pela primeira vez, em 2019. No ano passado, ficou ainda mais conhecida por ter sido escolhida a representante portuguesa no concurso Eurovision, competição de talentos entre países europeus que mexe com o mercado fonográfico. Com a canção Saudade, Saudade, ela garantiu um lugar de destaque entre os Top 10. Após flertar com a música eletrônica, MARO lança esse mês Hortelã, álbum em que combina elementos da vanguarda e da world music. Optou por um formato original: entrou em estúdio e gravou tudo ao vivo, acompanhada apenas por três violões, sem bateria ou outros acompanhamentos.
Em entrevista à ISTOÉ, ela afirma que o Brasil vive uma fase mais aberta aos artistas de Portugal: “Entre os músicos da nova geração, há muitas colaborações que unem os dois países. É claro que seria incrível fazer duetos com lendas como Chico e Caetano, mas tenho sido muito feliz em realizar projetos com artistas mais jovens, como Anavitória, Rubel e 5 a Seco”. Passando por um período de gravações no estúdio Gargolândia, em Lambari, interior paulista, MARO afirma que a temporada no Brasil já provoca mudanças em seu sotaque. “Estou soando como brasileira”, brincou. Esse mês, ela está apresentando shows intimistas – com ingressos já esgotados – na casa noturna Baralto, e volta em abril para uma turnê completa.

Tema de novela
Outro português que conquistou os brasileiros é Salvador Sobral, cantor e pianista que acaba de fazer uma bem sucedida turnê pelo País. Suas apresentações foram precedidas de elogios rasgados de Caetano Veloso: “para mim, é um dos maiores cantores que existem. Conhece a grandeza da arte”. Essa foi a primeira vez que Sobral cantou no Brasil. Apesar de já possuir fãs, ele não podia cruzar o oceano por questões de saúde. Em 2018, foi submetido a um transplante de coração, que o impedia de viajar de avião. Um ano antes, conquistou o prêmio Eurovision com a canção Amar pelos Dois. Composta por sua irmã, Luiza Sobral, a balada foi tema de Tempo de Amar, novela da TV Globo.

Embora MARO e Salvador Sobral apresentem uma sonoridade mais sofisticada, que segue influências do jazz ao erudito, há novos nomes que representam estilos mais voltados para a cena mundial do rap e pop. Branko, DJ de música eletrônica, incorpora até elementos do funk carioca em suas remixagens. Já a cantora Mimicat desponta em festivais europeus com uma soul music moderna e original. A força da miscigenação com as colônias também está bem representada. O sentimento flui nos raps e balanços poderosos de Dino D’Santiago, de ascendência africana, da Costa Verde. Com letras contundentes, ele representa os sons da periferia de Lisboa – uma das muitas vozes de talento que começam a ser ouvidas no além-mar.
