11/03/2022 - 9:30

Existem muitas incertezas em torno de Stonehenge, um dos maiores enigmas arqueológicos do Ocidente. Erguido no Sul da Inglaterra em 2.500 a.C., na região de Salisbury, o monumento vem sendo estudado exaustivamente nas últimas décadas. Arqueólogos tentam entender a origem e os desafios que envolveram o transporte de monólitos de várias toneladas até o local e a própria instalação do conjunto neolítico, além de sua finalidade, que parece ter mudado através dos tempos. A principal conclusão, com a qual os todos estudiosos estão de acordo, é que o lugar servia para cultos e rituais. Outra teoria antiga que agora ganha mais consistência é a de que também funcionava como um calendário, mas não se sabia como. Um estudo recém-publicado na revista científica Antiquity, da Cambridge University Press, tenta, justamente, dar essa explicação. Seu autor, o arqueólogo Timothy Darvill, professor da Universidade de Bournemouth, argumenta que a numerologia dos sarsens, os maiores blocos de arenito do monumento, que atingem mais de 5 metros de altura e 20 toneladas, materializam um calendário solar perfeito de 365,25 dias.
O diagrama montado por Darvill é consistente. Havia, na estrutura original de Stonehenge, trinta sarsens, que formam o círculo principal do monumento. A hipótese da pesquisa é que cada um desses elementos represente um dia do mês, totalizando, em doze ciclos, 360 dias. Nessa estrutura de pedras, há componentes diferenciados, que demarcam semanas de dez dias. Além disso, no centro do grande círculo, existem cinco conjuntos menores, chamadas de trilitos, que têm o formato de ferraduras, e são associadas aos cinco dias restantes para completar um ano solar de 365 dias, o que se caracteriza como um mês intercalar, cujo objetivo é ajustar o calendário. “Compreender os elementos sarsens como um grupo unificado e reconhecer o significado numérico de cada componente abre a possibilidade de que eles representem os blocos de construção de um calendário perpétuo, simples e elegante de um ano tropical médio”, diz Darvill. Uma terceira estrutura do monumento, fora do círculo principal, com quatro rochas que formavam um retângulo preciso, seria usada para fazer as correções nos anos bissextos.
“Reconheceer o significado numérico de cada componente abre a possibilidade de que eles representem um calendário perpétuo” Timothy Darvill, arqueólogo da Universidade de Bournemouth
Há dois anos, foi descoberta a origem das pedras sarsens de Stonehenge, que vieram de uma região a 25 quilômetros do monumento, perto da cidade de Marlborough. Outros tipos de rochas que aparecem no lugar são as chamadas bluestones, de coloração azulada, originárias das Colinas Preseli. Os calendários antigos serviam para orientar as rotinas da vida cotidiana, como os períodos de plantio e colheita, e também para as elites políticas legitimarem seu poder e para as comunidades se aproximarem de seus deuses nos momentos propícios de celebração e oferenda.
A existência de Stonehenge está diretamente associada à comunidade de Durrington, a maior aldeia neolítica da Inglaterra, que possuía dezenas de casas, e ficava nas imediações do que hoje é a cidade de Salisbury.
Influência externa
A região era cortada por diversas rotas de transporte e era movimentada na pré-história. Darvill não fecha questão se o desenvolvimento do calendário foi uma conquista autóctone ou aconteceu sob influência externa, em especial do Mediterrâneo Oriental, onde o Egito havia estabelecido um calendário solar semelhante, com semanas de dez dias, por volta de 3.000 a.C. Embora a distância entre o Egito e Inglaterra possa parecer insuperável no neolítico, a conexão é possível. Mas o mistério permanece e ainda há muito para se entender sobre Stonehenge.