Casais formados nas duas últimas décadas são o símbolo de uma sociedade cada vez mais igualitária. A constatação se dá ao analisar os hábitos dos noivos nos cartórios. O número de mulheres que incluiu o sobrenome do marido caiu 24% desde 2002, quando esse percentual era de 59,2%. Entre 2011 a 2022, passou para 45%. As informações dos Cartórios de Registro Civil mostram outro dado revelador da mudança de costumes. Há uma parcela de homens que adotam o sobrenome da mulher: 0,7% em 2021. Já a mudança de sobrenome por ambos representou, em 2021, 7,7%. Todas as constatações são relevantes. “Foi nítido o caminhar da sociedade no sentido de maior igualdade entre gêneros, com a mulher deixando de estar submissa e assumindo um papel de protagonismo na vida civil”, diz Gustavo Fiscarelli, presidente da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais.

Em São Paulo, os advogados Fabio Komatsu Falkenburger, 45 anos, e Luana Komatsu Falkenburger, 38, são a realidade do estudo. Ao casar, em 2016, assumiram o sobrenome um do outro. “Como dizem no juridiquês: é uma sociedade conjugal. Faz sentido que se tenha o nome dos dois”, observa ele. “É uma honra ter o sobrenome dela”, completa. “Me senti prestigada”, admite Luana. Ingrid Reis, especialista em Sociologia e Saúde pela Universidade de Medicina do Porto, considera essa evolução positiva. “É um sinal de que os tabus e preconceitos poderão ser superados”, analisa. Também em São Paulo, a jornalista Ana Gissoni, 34 anos, oficializou união com o contador José Leonardo, 34, em 2012, e não fez alterações no nome. No passado, a mulher era obrigada a ter o nome do marido, pois, no contexto da época, ela se tornava propriedade dele. Esse dado histórico a incomodava, por isso, ela quis se “desvincular” da convenção. “Meus amigos acham que sou louca por essa história de ‘não sou propriedade’”, conta.

“Quando os dois adotam o sobrenome um do outro ou optam por manter os de solteiro, estão decidindo que há uma parceria em que os dois têm o mesmo poder”, diz Carolina Ferro, professora de história na UniCarioca. Os números atuais são favoráveis, mas para o movimento das mulheres é preciso mais. “Ainda precisamos evoluir muito. Não adianta um discurso sem que na prática se realizem ações que promovam de fato o feminismo”, finaliza Carolina.