21/05/2021 - 9:30
O adolescente Daniel Neves, de 13 anos, faleceu na tarde da terça-feira 18, vítima da Covid-19. Natural da cidade baiana de Guanambi, ele travava uma luta contra duas doenças que foram diagnosticadas quando tinha oito meses: a fibrose hepática e os rins policísticos. Para pagar os tratamentos de saúde, Daniel pintava e vendia os quadros, muitos com temas religiosos ou de animais – segundo a família e amigos, ele gostava muito dos bichos. A informação de sua morte, divulgada em uma rede social que ele costumava usar, comoveu a pequena Guanambi, comoveu a Bahia, comoveu todo o País.
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E não é para menos: Daniel não faleceu devido aos males que tinha, mas, sim, por um outro grande mal — o desleixo do governo federal no combate à pandemia. O fragilizado mas alegre garoto foi pego pela Covid. É muita traição para quem aguentava hemodiálise três vezes por semana, desde 2015, nos hospitais Roberto Santos e das Clínicas, em Salvador. Foi nos intervalos dessas incômodas e sofridas sessões que o resiliente menino desenvolveu a técnica e o gosto pela pintura. O seu grande sonho era receber um rim doado: para isso o dinheiro arrecadado com a venda dos quadros, assim como as doações de amigos, era guardado para a cirurgia do transplante.

“Tornou-se uma estrela! De tão iluminado que sempre foi,” escreveu a atriz Yanna Lavigne. Recentemente, Daniel e sua mãe, Cleide Vieira Neves, mudaram-se para Salvador para facilitar o tratamento. Mesmo assim, a cada três meses viajavam a São Paulo para realizar exames periódicos.
A cantora e atriz Mariana Rios lamentou a morte: “Hoje recebi a notícia de que nosso menino amado Daniel Neves partiu”. As viagens para São Paulo eram pagas pelo governo da Bahia — as despesas na capital paulista, no entanto, ficavam por conta de Cleide, incluindo o transporte. E aí, inevitavelmente, diminuía um pouco as já tão pequenas reservas advindas dos quadros. A mãe de Daniel tentou algumas vezes trabalhar, mas isso lhe era sensivelmente inviável por conta dos cuidados que a precária saúde do garoto demandava. O tempo ia passando, a saúde se esvaia, os quadros os salvavam — uma campanha on-line para a compra dos trabalhos de Daniel conseguiu arrecadar R$ 209 mil. Não houve salvação, no entanto, para a traição daqueles que, embora sequer o conhecessem pessoalmente, são responsáveis pela morte de quase meio milhão de brasileiros, entre eles, agora, incluído o pequeno artista.