26/08/2022 - 9:30
A Resolução 23.674/2021 do TSE regulamenta as eleições deste ano. Nela encontramos o calendário eleitoral. Dentre as informações, constatamos que propagandas eleitorais estão permitidas desde o dia 16 de agosto. Confrontar essa data com os fatos da vida real fará muita gente se questionar: mas antes disso não havia propaganda eleitoral? Analisar a eleição presidencial de 2022 demanda reconhecer que, informalmente, o pleito teve início muito antes de qualquer marco temporal legalmente definido.
Além disso, é necessário considerar o peso da profunda polarização vivida desde 2018, determinante para essa atípica antecipação.
Oficialmente, a propaganda eleitoral começou há alguns dias.
A verdade é que 2018 não acabou e que 2022 tende a apenas reforçar esse populismo dual, especialmente com Lula na condição de candidato
A campanha, porém, está na vida dos brasileiros desde o dia 1º de janeiro de 2019. As polêmicas falas presidenciais no cercadinho; a intensa militância digital; a politização da pandemia; as reviravoltas da Lava Jato, sobretudo por meio da Vaza Jato; a revisão dos processos envolvendo Lula; os atritos entre integrantes dos Poderes da República, em especial Executivo e Judiciário; tudo isso manteve e aprofundou o clima eleitoral desde o 2º turno de 2018. Diante desse cenário, o surgimento de uma via alternativa – ou terceira via – para a eleição presidencial de 2022 sempre se mostrou desafiador e, com menos de 50 dias para o primeiro turno, segue ainda mais improvável. A força gravitacional da polarização sagrou-se maior do que a capacidade de articulação de outros atores políticos. Parcela expressiva do eleitorado foi posta em cenário no qual só duas alternativas parecem reais.
Se pedir voto é prática legalmente autorizada há poucos dias, agir como candidato e pautar a vida nacional para e pela eleição de 2022 não é algo novo. A verdade é que 2018 não acabou e que 2022 tende a apenas reforçar esse populismo dual, especialmente com Lula na condição de candidato. São praticamente quatro anos nessa cruzada eleitoral, pautados por discursos de ódio, pródigos em transformar adversários políticos em inimigos. Nos últimos meses, muito se tem dito a respeito dos riscos aos quais se encontra submetida a democracia no Brasil. Porém, quantos estão realmente dispostos a reconhecer que parte significativa desses riscos advém da frequente intolerância essencial a discursos que demonizam adversários? Em última instância, cabe ao eleitor perceber que o ódio não deve ser indutor de escolhas políticas. A segurança e o sucesso da democracia também passam por isso.