A sustentabilidade está na moda. Se a reutilização de tecidos e o uso de recicláveis, como garrafas PET, nas confecções já estava em alta, o investimento em inusitados materiais renováveis para substituir os tradicionais impressiona.

Criado pela espanhola Carmen Hijosa, o couro de abacaxi é alternativa ao de origem animal, cuja produção é uma das mais poluentes da indústria têxtil, pelo gasto excessivo de água e o despejo de metais pesados no meio ambiente. “A indústria da moda tem um papel essencial na introdução destes tipos de materiais no mercado e também na divulgação de suas vantagens”, fala a empresária.

PIONEIRA Carmen Hijosa envia couro de abacaxi para 80 países (Crédito:David Stewart)

Patenteado pela sua empresa, a Ananas Anam, que possui Certificação B-Corp de sustentabilidade social, o couro conhecido como Piñatex é feito das fibras das folhas da planta do abacaxi, que seriam descartadas ou queimadas. Ao utilizá-las em sua forma natural, a estrutura de celulose do vegetal é preservada, o que garante pouco processamento e nenhum resquício de produtos químicos nocivos.

DE OLHO NO PÉ Couro vegetal junta conforto e estilo na bota da Drew Veloric (Crédito:Divulgação)

Além de conter a geração de resíduos, a fabricação do Piñatex agrega valor aos produtores do fruto. “Ao valorizar as folhas, criamos fluxos de renda diversificados e adicionais, e criamos empregos nas áreas rurais das comunidades agrícolas”, diz. Em 2021, foram 825 toneladas de folhas resgatadas e mais de 300 empregos gerados em comunidades rurais nas Filipinas.

TUDO PRATA Poltrona feita do couro da fruta tem design do tunisiano Tom Dixon (Crédito:Divulgação)

Enviado para mais de 80 países, e figurando em coleções de Hugo Boss, H&M e Nike, é nos modelos da Insecta Shoes que o couro vegetal pode ser encontrado no Brasil. Barbara Mattivy, fundadora e diretora criativa da marca, conta que namorava a matéria-prima há tempos, mas foi só há três anos que conseguiu viabilizar seu uso por aqui. “Quando a gente começou era tudo mato. Fomos uma das primeiras marcas do país a trazer na comunicação a história dos produtores e a conscientização. Foram pilares fundamentais para ganhar o mercado”, conta.

INOVAÇÃO Couro ecológico de cogumelo é exclusivo da espanhola Balenciaga (Crédito:Divulgação)

A empreitada foi positiva. A nutricionista Alessandra Luglio é vegana e usuária dos sapatos feitos com o material: “Não vejo diferença quanto à flexibilidade, resistência e beleza”. Sobre a durabilidade, só o tempo irá dizer, mas ela lembra que, infelizmente, esse é um conceito relativo no mundo da moda: “A maioria das pessoas compra um sapato, usa um tempo e se desfaz, então essa durabilidade é parcial. Por isso é sempre vantajoso substituir o que é de base animal”.

COR DO MAR Camiseta de algodão orgânico da Vollebak leva tinta de algas (Crédito:Divulgação)

Assim como a versão animal, além de estar presente em calçados, o couro de abacaxi é usado na fabricação de roupas, bolsas, estofados e peças de bicicleta. Famosa pelas inovações, a Balenciaga também inaugurou um tipo de couro no último inverno. Feito do corpo vegetativo do cogumelo, o micélio, o EPHEA™ é um couro projetado exclusivamente para a marca espanhola, sem comprometer a qualidade e o desempenho técnico.

O uso consciente da natureza também reside na produção de materiais de origem vegetal já conhecidos, como a borracha de Xapuri, no Acre, fruto de manejo sustentável e utilizada pela franco-brasileira Vert nos solados de seus tênis casuais.

SELIM Couro e pedalada sustentável com a Riva Cycles (Crédito:Divulgação)

Também vem do mar

“As algas devem se proliferar na moda em 2023″, saiu em trecho do relatório da WGSN, autoridade em tendências de consumo. Pioneira no tingimento com algas pretas, a inglesa Vollebak lançou a camiseta Black Algae Dyed na última coleção. Apesar do nome Garbage (lixo, em inglês), a série nada tem de inutilizável.

Chamada de SeaCell, a tinta corresponde a 20% da peça (os outros 80% são algodão orgânico) e leva polpa de eucalipto de florestas sustentáveis, além das algas marinhas dos fiordes islandeses. Abundantes na região, os organismos aquáticos têm apenas a parte superior coletada, o que permite sua regeneração.

Da costura 100% algodão à etiqueta impressa com a mesma tinta, a Vollebak cumpre requisitos importantes: produção de roupas de vida longa, redução de resíduos e utilização consciente da natureza. “Estamos abordando os três pilares, e construindo camisetas, moletons e calças com materiais naturais, como cânhamo, algas marinhas e eucalipto”, diz o cofundador e CEO da empresa, Steve Tidball.