O período mais traumático para os profissionais que servem bebidas alcoólicas misturadas, drinques e coquetéis, foi de 1920 a 1933, nos EUA, durante a lei seca. Mas, a partir de março deste ano, tudo mudou. Em todas as partes do globo, bares e restaurantes foram fechados, as aglomerações proibidas e consequentemente os mestres desse tipo de produção, os bartenders, se viram abandonados a própria sorte. O trabalho de um bartender, a forma e os ingredientes que usa em cada preparação de um drinque estão diretamente envolvidos na relação estabelecida com o seu cliente. A produção do coquetel tem relação com o diálogo desenvolvido no balcão. “Depois de uma boa conversa, traçamos um perfil do nosso consumidor”, conta Diogo Servilio, bartender há quinze anos. A partir desse ponto, esses profissionais migraram para atuar no formato digital, com cursos básicos de como preparar uma boa bebida, até lives mais detalhadas e com receitas exclusivas. Percebeu-se com isso, uma maneira de arrumar alguma remuneração e divulgar o nome nas redes sociais.

“Gostamos tanto da live que resolvemos repetir a dose” Mariana de Souza, cliente e amiga (Crédito:GABRIEL REIS)

Atuando na internet Diogo teve sucesso. Apesar das etapas de adaptação terem sido meio complicadas. “Tive que aprender como me portar diante das câmeras”, conta. Bem articulado, entendeu rapidamente como apresentar os drinques e coquetéis. Escolheu a dedo alguns amigos e, de acordo com o perfil de cada um, preparou kits para a produção das bebidas multicoloridas. Um casal de noivos, amigo do bartender, Mariana Oliveira de Souza, 34, e Matheus Felipe Gouvea Ferreira, 34, foi premiado: recebeu um kit, entregue numa sacola bordada pela esposa de Diogo: Havia vodca, gin, laranja, limão, compota de goiaba e um licor de fogo paulista. Para preparar, durante a live foram usados 50 ml de gin, 20 ml de suco de limão, dois ou três pedaços de compota de goiaba e 100 ml de tônica. Na coqueteleira, deve-se amassar os pedaços de compota, misturar, coar e servir com gelo. A experiência foi tão agradável que a dupla resolveu repetir a dose. Então, em 27 de junho, dia do aniversário de Mariana, o casal e o bartender montaram uma live especial em que participaram 40 pessoas. “Hoje cada um tem sua receitinha”, conta Mariana.

Em home office

O bartender Spencer Junior sofreu com a pandemia, mesmo sendo um dos mais premiados profissionais. Ficou em home office, ganhando menos, e foi atuar em lives, dar cursos e palestras para empresas de bebidas. “Foi uma boa saída para ter renda”, conta. Spencer explica que o contexto é diferente, mas mantém o foco na coquetelaria. “Faço algo semelhante nas aulas que dou na Associação Brasileira de Sommeliers”. A profissão de bartender é uma das mais antigas do mundo e ainda guarda seus segredos. “É impossível saber quantas misturas de drinques existem. Já que lidar com o paladar alheio é algo complexo e surpreendente”, diz.