11/11/2022 - 9:30
Eventos esportivos globais como Copas e Olimpíadas trazem o futuro para o presente dos campos de jogo, servindo como vitrine da tecnologia que o mundo verá nos anos seguintes. E assim será nesta Copa do Mundo de Futebol, arrastada para o inverno do Catar, quando a temperatura é mais amena que os 50° do verão. Daí o jogo de abertura no próximo dia 20, com final em 18 de dezembro. Com custo declarado de US$ 200 bilhões, contando toda a infraestrutura, e carregada de críticas, ainda assim será a primeira grande festa multinacional após o pior da pandemia. Poderá servir como despedida para astros do esporte como o argentino Messi, o português Cristiano Rolando e o próprio Neymar. E também colocará nas mesas de boteco um novo tema para discussões acaloradas: o uso do VAR dedo-duro, a estrela tecnológica da competição. Além, claro, da gritaria contra o juiz — que agora, também pela primeira vez em Copas masculinas, poderá ser uma mulher.
A versão avançada do “árbitro assistente de vídeo”, na tradução da sigla em inglês, tem como aliadas a bola, com um sensor embarcado, e 12 câmeras colocadas no alto das arquibancadas dos oito estádios. O sistema aponta o momento exato em que a bola recebe o pontapé de um jogador, lançando para alguém na área, por exemplo. As câmeras rastreiam movimentos de cada atleta. O cruzamento desses dados com as informações enviadas pelo sensor da bola é capaz de apontar linhas de impedimento, que seguem em alerta para o relógio do árbitro principal. E as imagens transformadas em 3D serão repassadas para os telões dos estádios, além das emissoras de TV.
O governo catari cumprirá a promessa de amenizar o calor com um sofisticado sistema de ar condicionado em espaços abertos movido a energia solar, para arquibancadas e, em separado, para o campo. Aliado o conforto físico dos jogadores à boa irrigação da grama, com um sistema de dessalinização de água, o espetáculo ganha em técnica e beleza. O público estará se deslocando por estádios que não distam mais que 70 quilômetros uns dos outros, no país com metade da área de Sergipe (o menor Estado brasileiro).
A população de 1,7 milhão receberá 1,2 milhão de visitantes, para serem acomodados em hoteis, acampamentos no deserto ou navios ancorados no Golfo Pérsico, além de moradias dos cataris, liberadas pelo governo para airbnb durante a Copa. Ou mesmo se hospedando em países vizinhos como Kuwait, Omã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e até Irã, que contarão com vôos bate-e-volta. Além dos jogos, haverá shows com 60 artistas internacionais. O álcool, proibido pelo islamismo, será liberado em zonas especiais dos estádios e de arredores das cidades. A segurança contará com 3.250 agentes da Turquia, com apoio do Paquistão e da OTAN, e especialistas em contraterrorismo da Coreia do Sul.
“Aceitamos este desafio pela fé em nosso potencial. É uma Copa para todos e o sucesso será de todos” Tamim bin Hamad Al Thani, monarca do Catar
Do mais luxuoso dos estádios, o Lusail, para 80 mil pessoas e onde será a final, ao “estádio-lego” Ras Abu Aboud, há preocupação com sustentabilidade, outra novidade para a Copa. Formado por contêineres, o Ras Abu Aboud será desmontado após a competição. Outros terão parte de suas arquibancadas tiradas e doadas a países em que o futebol está em desenvolvimento. Esses estádios estão prontos há dois anos para receber as 32 seleções (pela primeira vez com 26 jogadores cada uma), inicialmente divididas em grupos de quatro. O Brasil está no G, com Suíça, Sérvia e Camarões. Os dois primeiros avançam para as oitavas-de-final. Daí para frente é só mata-mata.
O dono da bola

Tamim bin Hamad Al Thani é o sheik que governa o Catar desde 2013, já com o direito conquistado de organizar a Copa 2022, conforme anúncio da FIFA em 2010. Passou das críticas de suborno para ganhar a sede às denúncias de mortes de operários (que, segundo o jornal The Guardian, chegaram a 6.500 ao longo da década) e se diz pronto para o pontapé inicial do espetáculo que custou US$ 200 bilhões ao país mais rico do mundo.