07/10/2022 - 9:30
Seja pelo talento ou pela capacidade de agregar indicações ao Oscar, há diretores que têm o poder de atrair verdadeiras constelações de estrelas para os seus filmes. Se até pouco tempo isso era privilégio de nomes consagrados com longas carreiras, como é o caso de Woody Allen e Martin Scorsese, hoje o grande queridinho de Hollywood é David O. Russell. Basta lembrar de premiações recentes da Academia: seu filme de 2012, O Lado Bom da Vida, foi indicado a oito Oscars; Trapaça, do ano seguinte, recebeu indicações em dez categorias.
É por isso que a indústria está de olho no desempenho de sua nova produção, que acaba de estrear nos cinemas: Amsterdam, favorito ao Oscar do ano que vem, reúne um número impressionante de astros.
Estão no elenco Christian Bale, Chris Rock, Rami Malek, Margot Robbie, Anya Taylor-Joy e John David Washington, apenas para citar alguns. Também integra o cast um nome de peso ainda maior: Robert De Niro já tem um extenso histórico de parcerias com Russell – esse é o quarto projeto em que os dois trabalham juntos. Até a cantora Taylor Swift, que possui o costume de interpretar apenas ela mesma, aceitou o convite do diretor para o papel da filha de um general cuja morte desencadeia toda a complexa trama de Amsterdam. Com roteiro do próprio Russell, o filme tem um enredo intrincado que gira em torno de dois eixos: um relato de companheirismo que cruza o oceano e uma conspiração americana que flerta com o nazismo.

Essa divertida produção de época recria com perfeição o clima dos EUA durante a Segunda Guerra, antes de o país entrar para valer no conflito. Inspirado por um caso real, revela a estratégia de um grupo de banqueiros e magnatas norte-americanos que agiram na surdina para se aproximar de Adolph Hitler e faturar negócios com a Alemanha. Para isso, buscam o apoio de um respeitado militar, papel de Robert De Niro. O general Gil Dillenbeck, seu personagem, foi inspirado em Smedley Butler, cuja ação ajudou a mudar o rumo da humanidade. Até sua morte, em 1940, ele foi o general mais condecorado da história dos EUA. Em seu livro de memórias, War Racket (1935), denunciou empreendedores poderosos que teriam apoiado governos inimigos apenas por benefício pessoal. Passou a ser convidado para discursar em eventos pacifistas – não é à toa que seu pronunciamento é um dos pontos altos do filme.
Amigos para sempre
O eixo romântico do enredo, mais engraçado e caótico, une os personagens de Christian Bale, Margot Robbie e John David Washington interpretando um trio inseparável que se conhece durante a Primeira Guerra, em Amsterdam, na Holanda. Os dois veteranos mutilados e a enfermeira acabam se encontrando no centro da tensão política quando deixam a Europa e voltam aos EUA. Para Russell, Amsterdam é mais que um projeto profissional: é uma narrativa pessoal. “Amizade e amor são a base do filme. O pacto que os personagens fazem para cuidar um do outro é o pilar da trama”, diz Russell. “São amigos que veem as qualidades um do outro e que passam o tempo inteiro se lembrando disso.”

Em relação ao complô, Russell recorda que as pessoas ficam surpresas quando descobrem que o episódio abordado na tela realmente aconteceu. Para ele, é uma homenagem ao heroísmo dos indivíduos reais que inspiraram a ficção. “O momento é um divisor de águas na política global e na vida dos personagens. O mundo pode virar de cabeça para baixo ou ficar com o lado certo para cima. Os personagens têm participação decisiva nessa definição, embora não saibam disso.”
No front da Primeira Guerra, o regimento em que Harold (John David Washington) atua baseou-se no Harlem Hell Fighter Regiment, esquadrão segregado de soldados negros enviado para a França para defender os EUA. Ao chegar lá, porém, tiveram de dividir as trincheiras com as tropas francesas, uma vez que seus compatriotas se recusaram a lutar na mesma companhia, por racismo. “Eles acharam que seriam bem-vindos pelos outros norte-americanos, mas a verdade é que essa ajuda foi rejeitada”, afirma Washington. “Sentiram o mesmo preconceito que ainda encontra eco nos dias de hoje.” Russell admite que seu filme tem certa liberdade poética. “Estou aqui para fazer uma obra de entretenimento, não um documentário.” Ao fazer um paralelo entre os EUA atual e o país pouco antes da Segunda Guerra, Russell fez um filme sobre o passado que diz muito sobre o presente – e que alerta para o futuro.